A Filantropa

A FILANTROPA
Miguel Carqueija



Eu sei que é muito difícil
— e pensar nisso me aterra —
subir mais alto que um míssil
embora pisando a Terra.

Eu tenho bem consciência
de ter o mundo aos meus pés
mas tenho amor e clemência
por Marias e Josés.

O dinheiro não é tudo,
importa ter compaixão;
o egoísmo é mudo,
o amor fala ao coração.

Por isso no meu caminho
eu penso no irmão que sofre,
trato a todos com carinho
e sei abrir o meu cofre.


O que pudermos fazer
pelo irmão que passa fome
inda é pouco, pode crer:
e este ideal me consome.

Que importa usar roupas finas,
comer do bom e melhor,
ter firmas, fábricas, minas,
se o mundo fica pior

a cada dia que passa,
e se eu não fizer nada
meu coração se trespassa;
que adianta ser amada

se eu não devolvo amor,
que vale ser requestada,
ter fãs cheios de ardor
e ser da mídia adulada?





Pois se eu não tiver amor
isto não me vale nada,
que Deus me dê o penhor,
que me faça agraciada

que eu tenha a alma mais bela
que este meu corpo atraente,
que este meu rosto de tela,
que eu seja enfim muito gente!

Nós chamamos caridade
a mesma filantropia,
é o seu nome de verdade
e fiz dela a minha via!

Piso tapete vermelho,
estou no topo da mídia,
mas diante do espelho
sei que este mundo é perfídia!

Sei bem, quem hoje me adula
amanhã já me esqueceu;
na Terra a inveja pulula
cada um querendo o seu.

Por isso o meu ideal
é viver fazendo o bem;
desprezar tudo o que é mal
e ser humilde também.

Há no mundo falsa estima
quando se está na berlinda:
enquanto estiver por cima
você é a coisa mais linda!

Mas quando eu for esquecida
quem vai se lembrar enfim
é quem recebeu comida,
apoio e amor de mim!




22.1.16 10.8.2016





Gisele Bündchen, modelo, empresária e filantropa brasileira, imagem clickgratis. Demais imagens: pixabay.