MEU PAI

Na semiluz

da memória

aninhada

na concha

de teus quentes

e antigos dedos

enrosco-me

em teu silêncio luto.

E escuto

minhas páginas pálpebras

muito mais

que imaginadas

uma a uma

na dança da viração

e te vejo,

pai.

Nesse doce antigamente

que vem quieto

sinto

a vida azul

que me expectavas.

Tinha

na relembrança

uma luz recado

que pairava

tão bela,

tão bela

e eu dela

nada sabia.

Era

como se o mundo

inteiro

na infância

que me trazias

fosse de sol,

pai.

Quando adentravas

pela casa

meu lúdico céu

embrulhava-se

em pássaros

e eu mesma

me apoderava

dos sopros das asas

e voava

esvoaçando carinhos

no teu rosto sorriso.

E eu sabia

que o teu sol

era a vida

em mim,

pai.

Escuto

teu silêncio

e luto

nessa tormenta densa

que venta ausência

que quase varre

sol e céu

e pássaros e voos

que me arrasta

a toda hora.

Ouço ao longe

o som do cravo

que sibila Bach

que suplica,

pai,

de mim

não vás embora…

Mírian Cerqueira Leite

Mileite
Enviado por Mileite em 24/11/2014
Código do texto: T5046794
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.