Carta Aberta

Sei que meu amor egoísta e conturbado é inoportuno

e quanto mais calado maior a cólera

porque o incandescente queima na surdina

tropeçante estradeiro amargando café noturno

por isso desculpa não justifica machisse capenga,

é hora de recolher a lágrima da viola, quem se destina

a catar estrela cadente no horizonte dispensa arenga

nunca mais vagabundo depois do banho de cheiro na alma

que a sua vinda do sonho perfumou

Sei que permaneço primitivo amante das cavernas

indecente caçador procurando-te a face na fogueira

olho adiante e vejo teu sexo na maçã,

amanheceres espalham deleites descarados,

nas tabernas bebo uma saudade que não cabe em mim

porque existes aprendo a conversar com o silêncio das pedras

meus ombros sangraram certezas desmentidas pelo coração

mesmo que seja a tempestade carta aberta

sigo entre mitos degolados e feras extintas porque em ti entendo quem é meu ser na lembrança de uma rua deserta