Genuinidade
Olhe o quanto de você em mim permanece e se enraíza
O cheiro, o gosto, a mudez
O silêncio entre os intervalos das inspirações
profundas e, às vezes, dolorosas.
Em mim fica(ra) e não se afasta
Aquela dúvida por aquilo que se omite
Nos fugidios olhos castanhos a catarem pelo espaço
respostas rápidas, atrozes, todavia inevitáveis.
Engasgam-me as frases, locuções, verbos não pronunciados
Escandalosamente compreensíveis
Sem enigmas a sererem decifrados
Como a nueza de um deserto, uma planície árida
Contudo, em mim, ainda haveria ceticismo
Mesmo que a verdade afiançasse o testemunho
Porque a cólica nasce da defesa do aparente longínquo
Que, afinal, persistindo, romperia o laço presente
E como poderia, oras, o beija-flor pesar por flores secas?
Quando há fragrâncias, bem-quereres e um jardim florido.
Como poderia apenar-se elegendo majestade os fantasmas?
Sacrificando a existência franca, palpável, verossímel.