fevereiro continua me matando, Geraldo Azevedo

homens, eu já desisti

de todos por causa

de um só

que mal de carne

e osso era

tava mais pra uma ideia

de ser

pra uma ilusão

de relacionamento

na fase mais terrível

da vida

a pré-adolescência

porque criança é inocente

adolescente não é gente

então o meio disso não

poderia prestar

e mesmo que todo santo dia

eu receba recados, convites

pedidos

mesmo que eu responda

fazendo graça

vendo quem é melhor

de lábia

( sem jamais perder)

não faz diferença

pois esse coração

é frágil, vagabundo

facilmente manipulável

de que adianta fazer

o homem rir

se o meu lamento

é inevitável

até em sonho

eu sou feita de besta

ando correndo tanto

de vocês

que parei de arriscar

nem fico mais os meus

famosos ( nem tanto)

cinco minutos preocupada

com os olhares alheios

enquanto nos intervalos

da preocupação te beijava

como se fosse ( pudesse)

amá-lo

isso serve para todos

(que foram ridiculamente poucos)

acho que quem já ficou comigo,

se isso significa algo,

participou de um evento raríssimo

mas não digo isso com orgulho

na minha idade

mãe já me tinha no colo

(não que isso seja motivo de orgulho)

e eu não saio na esquina

com medo de cachorro

e de homem

(adquiri esse trauma)

percebi agora

que poderia chamar

os dois de cachorro

mas coitado do animal

(se bem que ambos são animais)

só que um é mais honesto

com os sentimentos

é muito fácil pra eles:

gostaram, abanam o rabo

não gostaram, latem

felizes, abanam o rabo e latem

tristes, choram

e vocês, os outros,

são péssimos em comunicação

quando mentem,

é com afeto e convicção

nas palavras

e quando dizem a verdade

são incoerentes

ou eu que estou muito

desencantada

que nada mais me faz

querer aceitar os convites

que recebo

de grupos de amigos,

primos,

irmãos,

grande parte

de povoados

todos parentes

gente estranha

gente que eu não conheço

gente que eu conheço muito

ex-alunos dos meus pais

gente que namora,

que são os piores,

gente de todo canto

de todo jeito

mas eu nunca mais estive

disponível depois da suprema

decepção arrebatadora

solteira sempre

o que não significa nada

pois não posso gostar

de quem eu gostaria de poder

gostar

não quero magoar ninguém

além de nós mesmos

e também não posso

me prender ao passado

que não será remendado

e o futuro não existe

o que me resta é

criar coragem

perder a vergonha na cara

e viver o que está entre

os tempos

que passa

com a gente

ou apesar de nós

(eu digo essas coisas todas

- que são verdadeiras -

mas o que é eu quero dar

está guardado

não é inútil todo poema que faço

quero sutilmente dizer

que apesar de possuir um museu

de desilusões

e de ser a mais medrosa do mundo

meu amor, me aguarde

que eu hei de ser o que sou

e quem sabe você desfrute

um dia desses

pra gente viver um pouco

nessa morte diária

chamada vida

e você vai saber, fique tranquilo,

que um carnaval de paixão não

passa despercebido

seja re- ou começando)