Ainda não

Ah! Momento em que sento, agora,

Para poder acalmar o peito.

Ah! papel, santo papel!

Que me absorve em palavras,

Todas, quaisquer,

Das mais simples às compostas,

Saindo, seguindo,

Impensadas,

Incontroláveis, incólumes,

Inexatas, inefáveis,

Tortas, empurradas...

Vão!!

Alivia, caneta, essa pressão,

Esse Vesúvio ao meio-dia.

Transbordem!!

Já me saem pelos poros,

Pelos pêlos, pela pele inteira,

Pelas narinas, pelos ouvidos,

Pelos olhos, sem dúvida!

E que estes não entreguem minha alma

Por sorrisos claros,

Não antes que o tempo permita

À boca esvaziar o âmago,

Cobri-la,

Beijá-la...

Não antes que a razão se empanturre

E durma serena, satisfeita.

Mas saiam, palavras,

Pulem,

Extrapolem,

Voem!

Revelem o avesso da minha dor...

Exponham meus desejos, meus sonhos,

Meu amor...

Sem ordem, sem sentido,

Mas façam,

Disfarcem,

Mascarem, inventem, se virem!!

Mas saiam num pulsar contínuo,

Sem cessar...

Sem cessar...

Sem cessar... sem cessar... ... ... .. .. . . .