Chamo-te Amor

Na falta de um termo que explique aquilo que, em verdade, é inexplicável através de palavras, chamo-te sol...

...porque é quando a madrugada se torna mais fria e escura que sinto o toque sereno de teus raios a me abraçar e aquecer...

...porque é quando as lágrimas teimam em cair e molhar meu rosto que sinto tua forte presença a me enxugar e a devolver um calmo sorriso de luz, de paz...

...porque é quando insisto em ver o que não devo, ou não posso, que teu brilho indutor cerra-me os olhos e tranqüilamente me conduz ao lado certo da estrada...

E, então, percebo algo mais poderoso que o sol, e na falta de um termo que explique aquilo que, em verdade, é inexplicável através delas, chamo-te nuvem...

...porque é quando fujo a razão e o calor que me invade se faz mais intenso do que devia, tornas tua humilde presença a proteção que preciso do sol que já não tem teu nome...

...porque é quando sinto a necessidade de ver e de entender tua singela forma que te transformas numa imagem linda, a fazer do céu um quadro de alegria, prece e carinho...

...porque é quando tenho a alma impura e perdida que desces, grandiosamente, das alturas, em forma de chuva, a lavar-me e a trazer-me, de novo, pureza e sentido...

E, então, percebo algo mais poderoso que a nuvem, e na falta de um termo que explique aquilo que, em verdade, é inexplicável através delas, chamo-te vento...

...porque é quando preciso de mais luz na minha vã existência que empurras, ao horizonte, a nuvem que me sombreava, visto não ter ela mais tua clareza...

...porque é quando fico acordado tentando encontrar a razão de dormir que, como brisa querida, tu me embalas o espírito até o sono preciso...

...porque é quando acho estar sozinho que tocas as árvores e me mostras ser falsa tal solidão que me consumia e que tu docemente levaste...

E, então, percebo algo mais poderoso que o vento, e na falta de um termo que explique aquilo que, em verdade, é inexplicável através delas, chamo-te amor...

...porque és tão radiante quanto o sol...

...porque és tão protetor quanto a nuvem...

...porque és tão suave quanto o vento...

...porque és simplesmente tudo: a força que me invade e leva, o braço que me carrega, a boca que me beija e canta, a mão que me afaga e conduz. E na falta de um termo que explique aquilo que inexplicavelmente se passa dentro de mim, chamo-te, amor, e fico em paz.