A Inês do Pintor

Te amo de longe, é melhor assim.

A ideia de estar perto me causa vertigem.

Admiro-te, minha flor, meu jasmin,

Minha Inês, minha amada, minha virgem.

Te amo como pintor e como poeta;

Te deformo, te construo, te idealizo:

Crio tua imagem, e com torpor de esteta,

Admiro-te, sorrindo com teu sorriso.

Amo a inspiração que vem contigo:

O encanto reproduzido com tinta a óleo,

A abstração do giz, a rosa e seu acúleo.

É isso o que tanto amo e que quero comigo.

Ah! Mil obras inspiradas pelo teu palor!

Tua languidez escorre junto a tintura.

Minha amada, será que tenho teu amor?

Essa incerteza, meu bem, é minha amargura.

A musa que amo é, talvez, o teu avesso.

O que me encanta na verdade é a miragem;

O que eu quero é reproduzir a tua imagem.

Afinal: como vou te amar se nem te conheço?

Toda essa produção é movida pela dúvida,

Pela linha tênue, que na tela é só linha.

Vivo uma fantasia, uma ideia absurda:

Eu te pinto como se você fosse minha!