Outono pela metade
O outono cai pela metade, entre a felicidade e a tristeza
Colhendo flores, como rosas do vento
Varridas com a chuva, para dentro do meu coração...
Engulo, mastigo as suas palavras,
Do jeito nutrido que me aguarda a primavera.
Quando se aleita,
A paixão floresce, e cresce na ambiguidade de cada manhã;
Traz-me a colheita do trigo,
A dignidade de me alimentar,
Com a lenha úmida acesa a cada dia no fogão,
Ouvindo mais uma vez o fogo crepitar, a cada amanhecer...
Revendo no lume do crepúsculo, o que não é mais vermelho,
E que, a muito, se foi com o verão.
Perdi-o, a miúde, entre as chamas das nuvens,
Queimando na solidão do espaço.
Incorporando o gosto da tua doçura
Se evaporando no berço trágico, antes de evanescer;
Decantando-se no mágico sacrifício de morrer,
Apenas, para satisfazer e encantar os meus olhos...
Ontem, aprendi que a paciência são as migalhas supremas
De tudo que eu quero colher,
E guardar no peito, antes mesmo de compreendê-la.
Pois, sei quando tu segues esses lamentos,
entre as correntes de vento de fugazes auroras,
Escondendo-te na mais próxima estrela;
Diante do pensamento de caricias em teus braços,
-sinto os pelos arrepiados em momentâneo desapego-
De navegar no enredo turquesa- cor do seu Mediterrâneo-
Com a fome âmbar de, em ti, mergulhar...
Mar para quê? (Para quê tanto mar?)
Se, para beber-te,
em cada resposta haverá sempre uma lembrança imediata
de abraçar-te pelas costas e voar em seus cabelos...
Já não sou eu divagando,
É a saudade, que nos acata e devora,
Entre a solidão e a fúria ajeitando-nos calados
no fundo do poema que se foi, partiu,
precedido por teus passos.
Porém, retornou vivo no encantamento dos seus pés iluminados,
Que a trouxeram novamente para mim...
https://www.youtube.com/watch?v=BNB6UOOZAzQ
Espanca , Florbela
Ama-se quem se ama e não quem se quer amar.
---Nem sou.---
O amor, contudo, ata-me.
Não construo sequer um caminhar,
Não possuo nada, não sou o amanhecer,
Nem mesmo o despertar.
Mesmo aquele que não é,
Consta na superfície vazia,
Exprime, realiza-se,
Enquanto dissabor nem sou...
O papel que a chama consome
queima por algo,
Algo que um dia
pela lembrança dissemos o nome,
(Ah, a lembrança!)
Como mariposas voando a noite
em busca de luz,
A lucidez que a noite esconde,
No amargor das profundezas do infinito,
Pontilhado de jóias brilhantes,
Raras, ingênuas, pedantes e perfumadas,
Como gotas d’água
na condensação de raros momentos,
Perdidos sem razão,
Na lembrança de alguém
para alguém a quem se ama
com imenso carinho,
Para aquele ser que existe sozinho
somente dentro de mim.
I wanna go home
https://www.youtube.com/watch?v=fLx7UZtckzU
Agustina Bessa
Que é amar senão inventar-se a gente noutros gostos e vontades? Perder o sentimento de existir e ser com delícia a condição de outro, com seus erros que nos convencem mais do que a perfeição?
---"Tristesse" (Chopin Etude op.10 no.3)---
Quando você vem,
da sua concepção do mundo,
Pronta para mudar o nosso destino
com o humor de um fim de tarde,
As ondas do mar
parecem carregar as cinzas do meu interior,
Puro como a espuma e o sal que arde,
Suave e transparente como o rumor
que emana da minha breve respiração.
Perco-me na curva traçada ao acaso
na relva do teu campo,
Alinhada as praças floridas do firmamento,
Onde pulsa a comoção
que circula em minhas veias.
Carregando o sangue contido
e a aflição de ouvir debater-se o oceano,
Bebido como vinho seco
derramado pelo coração,
E assim, ouvindo o noturno de Chopin ao piano,
Tens a minha compaixão,
Refugiada nas ondas furiosas que sobem as colinas,
Galopando sobriamente a minha fronte,
algumas vezes,
Perdida nas ravinas, nos confins da terra,
onde aparecem as sombras da noite,
Bem distantes,
numa letargia ambígua do horizonte.
Tu és a primeira estrela que nasce
quando vou embora,
Resoluto, levo comigo o douro dos parques
onde passo ao entardecer,
Para reconhecer na lembrança
o tesouro perdido de sua alma,
Guardado na esperança de um resgate virtuoso.
Feito em meus pensamentos,
Repletos do céu que cai espirituoso
na certeza de seu abraço,
Calmo e envelhecido
como um lembrete emudecido,
Colocado na porta da minha geladeira,
Escrito pelas frutas verdes sobre a mesa,
E as maduras, já sem gosto, dentro da fruteira.
Você se parece com o vento
dispersando esses momentos,
Quando estou preso nas nuvens de tempestade
sopradas em meio aos trovões.
Com a voz inaudível na tormenta,
sigo ecoando sem poder lhe dizer o que sinto,
Nessa dor que trago dentro da alma,
predizendo o quanto devo sofrer.
Finalmente, você vem em minha direção,
Com sua alma imortal inerte,
Nas chamas desse pesadelo apertando meu peito;
E fecha a porta da casa mais solitária da sua rua
ouvindo o gorjeio âmbar da lua,
quase amarela, na penumbra a se perder.
Vejo-te sozinha na janela,
E me pergunto, sobre teu véu silencioso,
Como a persistência silencia uma pedra
que não receia o fogo,
Mas teme amar um favo de mel...
Just the way you are
https://www.youtube.com/watch?v=GkuJJsApACc
Anton Tchekhov
Aquilo que provamos quando estamos apaixonados talvez seja o nosso estado normal. O amor mostra ao homem como é que ele deveria ser sempre.
---Outro mistério---
... um sinal da primavera,
Com sua inflexão duradora
ri do tempo,
que, outrora compunha sonetos,
Crescendo como se fosse hera,
a conviver dentro de tua alma.
- a misteriosa bruma -
Resta-nos o fantasma surdo,
Estimado pelo vento
Espantando-te do meu sono...
Eis que a vejo
limpando o solo da garganta;
A existência é um sopro;
Temo este segundo lugar,
Onde se plantam covas,
E tudo morre...
Uma dupla ventania corre
dispersando nossas canções,
Entre escuras sensações,
não ouso alicerçar o azul,
apenas repouso a minha cegueira ,
no ombro de uma estrela,
fazendo-lhe carinho,
Onde o amor dorme inseguro,
No puro manto dos seus sonhos.
Pernoito em outro mistério,
E quando acordo já é outono ...
After The Love Has Gone
https://www.youtube.com/watch?v=7tuJfud4W6U
Cesare Pavese ,
O amor tem a virtude, não apenas de desnudar dois amantes um em face do outro, mas também cada um deles diante de si próprio.
---Constas no meu coração---
Constas no meu coração
Como a chuva que beija o solo,
Sugando a terra para dentro de cada porção,
Da semente adormecida em seu colo,
Buscando o sinal recatado de sua ambição,
Que foge, assim, de aparecer,
Em alguma ferida aberta por suas unhas,
No regato espiritual de meu corpo.
Algum dia verás a esperança como um ramo nu,
Nos dias tristes e febris,
Em que florescerás nos jardins,
Como as folhas crescem orgulhosas,
De poder dar vida aos seus galhos secos,
A escalar paredes suntuosas,
Em intrínsecas hachuras,
Descritas no pensamento mais profundo
das páginas brancas em que expões a vida,
Costurada pelas linhas,
Dos frutíferos poemas de suas vinhas,
Da cor roxa e adocicada tirada de seu mundo.
Emudecido pela nossa ressurreição,
Escrita na amurada partida de um barco funerário
buscando apenas uma confissão,
Perdida na batalha do oceano em que afundo,
Com um tesouro que reluz.
Do seu canto tu saberás a hora,
Dirás que me afogo nesta gota de luz.
Pois deixa, que logo,
Sobre o dissabor amargo das ondas
alquebradas da espuma em que mora,
Desfaça-me, enfim, refugiado,
Na condição de prisioneiro.
Corrompendo da areia cada grão não decifrado,
Na praia em que meu corpo ruma, por inteiro,
Depreciado pela bruma e morto em nome do seu amor,
Nas vagas debutantes da incompreensão.
Descreverei então em suas velas gregas,
As marcas das correntezas nos barcos Helenos,
Que transformará o que sobrenadar em suas profundezas,
Na inconsistência dos entendimentos amenos,
Levados pelas marés negras transcendentais,
Sabendo que nada pulsa no mar de minhas veias,
Em que nadas contra o arrependimento,
De encontrar em seu destino palavras demais...
You are so beautiful
https://www.youtube.com/watch?v=wlDmslyGmGI
Miguel Esteves Cardoso
Os homens são todos iguais, até na maneira de gostarem das mulheres. É a nossa única superioridade. Um homem, quando ama uma mulher adora-a. Uma mulher, quando ama um homem, aceita-o. Um homem vê todas as mulheres na mulher que ama. A mulher esquece os outros homens. Um homem ama e respeita uma só mulher. Uma mulher limita-se a amar só um.
---Dias Nublados Pelas Vielas do Meu Feriado---
Desço as escadas
pisando as pedras cruas do desejo.
Os caminhos secretos,
que envolveram um dia meu peito,
Escorrem pelas vielas com a precária luz
que aos poucos lampeja.
Tocando o corrimão de madeira
cor de amêndoa,
Dois frisos dourados de um bombom
de conhaque com cereja,
Abrem a porta
dessa forjada passagem subterrânea,
Porto da brandura enlevada
do meu pensamento,
Como o trigo que dança
por um breve momento na plantação...
Depois de caminhar pelas ruas
descanso sentado na estação,
Colecionando gotas de chuva,
Na tarde empobrecida pela solidão,
Enquanto aguardo um trem
com destino a próxima vida,
Observo o vidro temperando gotículas
do vapor da minha respiração;
Vou discorrendo como um artesão da alma
com meu cinzel,
Sobre o tronco puro
de sua imaginação,
Criando uma escultura filosófica
pelo anseio de suas mãos...
Pousadas nas minhas, as suas,
Estão nas imagens fotografadas,
Envoltas em sua alma
como duas asas.
Viajando enjauladas numa caravela emblemática
chamada concepção,
Misto de vida e alma fragmentada,
Junto a uma revoada de barcos nômades
alçando voo ao acaso pelo mar,
Singrando a “possessividade” das alusões,
Esperando que mude o vento,
aguardando seu revés.
Mulher de lábios doces
e salgados como a lágrima,
que de súbito me tivesse percorrido,
Com candura dos tempos de criança
no pensamento,
Faz com que meu temor
se ajoelhe a seus pés,
Trazendo consigo a caricia dos tempos,
Um sinal de terra, seguido de galhos secos,
nas manhãs turvas,
Sobre meu peito a repousar
acima de todos os intentos,
Que te acenam pela minha vontade
ainda inacabada,
Aguardando seu consentimento
Percorrer as curvas do meu coração,
Pelos perigos dessa estrada,
Neste mundo cúbico e retangular,
Onde espero em breve
o oceano se derramar,
Sobre suas pétalas,
Nalgum dia exonerado
dos dias comuns,
Que transformo em meu santo feriado.
Beth Hart - "Over You"
https://www.youtube.com/watch?v=msDyYn81HxY
John Lennon
Não interessa quem tu amas, onde é que amas, porque é que amas, quando é que amas ou como é que amas, o que interessa é que amas.
---O lóbulo da orelha---
...o lóbulo direito da sua orelha
se faz brilhar,
ao emoldurar um brinco de ouro;
Há uma graça peculiar
Ao refletir o seu passear pela janela,
Nas vestes do pasto
e suas doces colinas;
Dele, sobreveio no fim da tarde
o lábio rigoroso do inverno
com seu portentoso frio,
Desejando que o beijo do raio d’ouro na retina
fizesse, de nós,
um desvio quando chegou,
Abrindo sua janela ao vento da madrugada,
Trazendo o céu treliçado,
Misturado ao chá de canela,
Evaporando sua essência
entre as frestas do telhado,
Como a brevidade do céu escuro,
Enquanto o seu cheiro rosa no jarro
nos perfumava.
...vi as lanternas dos meninos que pescavam,
Sim, vi ao longe, clareando o lago,
Pois , era uma noite sem fim,
Em que as estrelas se apagavam,
E as lontras
roubavam os peixes largados na grama.
Mais uma vez fiz a minha cama na varanda
De cisão, esperando amanhecer,
Enquanto o lume
da voz sedenta dentro de mim,
Rosna e inventa uma semente que voa,
E me pousa perdido no vento,
entre os cridos de dentes-de-leão.
Dave Matthews Band
https://www.youtube.com/watch?v=9Sk55fGpf9M
Allen , Woody
Amar é sofrer. Para evitares sofrer, não deves amar. Mas, dessa forma vais sofrer por não amar. Então, amar é sofrer, não amar é sofrer, sofrer é sofrer. Ser feliz é amar, ser feliz, então, é sofrer, mas sofrer torna-nos infelizes, então, para ser infeliz temos que amar, ou amar para sofrer, ou sofrer de demasiada felicidade...
---A Profecia Lírica Do Fim Do Meu Tempo---
As faces dessa lírica profecia
pede-me em sacrifício,
Sou um cordeiro de espírito tenro,
e carne macia,
Uma oferenda devorando as folhas,
Que construirão meu casulo;
Sobrenatural como a lagarta pelos galhos
preparando sua transformação,
A revelação que postulo.
Como um iogue me recolherei,
Sintonizando meu dial universal
como um réptil.
Uma salamandra deitada
acariciada por uma pedra,
Relaxando preguiçosamente ao sol,
Para ser o alimento
do teu prospero banquete,
Deixando de ser a criatura escondida,
Pela minha imaginação,
Para ser capturado num filme,
Em sua quinta dimensão;
Sigo sincronizado com a íris,
Que faz da lente um penoso torniquete,
O olho de Deus
no topo de uma cúpula,
Que segue o contorno do sol,
Do nascer ao seu poente pecaminoso,
Comparado a ti, com justo orgulho,
Cerzindo o céu que me parece
levemente com um tapete,
Cuidadosamente costurado
de sedosos retalhos azuis,
Onde nuvens radiantes
tem a brancura de um novelo,
E os fios quentes, triunfantes,
Como os velos de um carneiro.
De onde provéns em meus sonhos
quando estou deitado,
As vezes parece-me o céu estrelado,
Descortinando a madrugada
pelos furos de minhas telhas quebradas.
Onde lhe mantenho agasalhada numa aspiração
para que não padeça.
Eis me, na forma de um casaco
tosado pelos mistérios do universo,
Colocado sobre a tua aura
para que não adoeça.
Na historia deste dia profético,
Agitarão meu pequeno espaço,
Andorinhas de mudanças súbitas,
Como a chama erguida
em minha memória,
Que pousarão nas cordas do meu violão
cantando alegres solfejos,
Sabendo que não há mais tempo
para escondê-la de mim,
Onde estarás presa,
Nas primorosas substancias liquidas do desejo
de seu corpo molhado pelo suor,
Que emanará sofridos odores,
Lembrando o aroma doce das rosas...
Somente a cordilheira do Himalaia,
Seu altar mor,
Libertará meu coração
de suas clausuras,
Confundindo o ar rarefeito das montanhas,
Em que respiro com dificuldade,
Com teu sopro restaurador
que me acompanha.
Penso comigo,
só os anjos sobrevivem as suas alturas,
No meio caminho
entre o céu e a terra,
Onde a leveza do som de suas asas
traz-me a saudade.
E nesta noite especial
farei minha cama no teu solo,
Nas reservas tênues de seu coração,
No viçoso planalto da sua alma
restaurada pela chuva,
Onde a água fresca corre
e leva meu ser,
A te desconhecer de tudo mais
que era sagrado.
Ouço musica nos galhos triviais,
Nas poças doces de sua verve
e languidos mananciais,
De onde minha vida escorre,
Numa afetuosa viagem
por dentro de mim,
Ouvindo o “sim” da assombração
de meu pobre homem,
Um alpinista perdido
nas passagens estreitas de seu labirinto,
Atravessando seus polos,
Circundando a terra,
Agindo por instinto,
Se agarrando a lembrança
do aconchego de seus braços,
Onde não podes mais me arranhar
com seu critério.
Deixando o amor para aqueles
que não desistem,
E dividem em paz o seu mistério.
From this moment
https://www.youtube.com/watch?v=IIQLzZjksU4
...amar a ambos, ao Deus Invisível, repositório de todas as virtudes, e ao homem visível, aparentemente destituído de qualquer virtude, é muitas vezes, desconcertante. Mas a inteligência do homem está à altura do problema. A pesquisa interior não tarda em mostrar uma unidade em todas as mentes humanas: o forte parentesco dos motivos egoístas. Pelo menos nesse sentido, revela-se a fraternidade dos homens. Uma assombrosa humildade segue-se a este descobrimento nivelador. E amadurece em compaixão por nossos companheiros de jornada, cegos às potências curadoras da alma que esperam por exploração.
- Os santos de todas as épocas, senhor, sentiram essa mesma piedade pelas dores do mundo.
-Somente o homem superficial perde a receptividade às aflições do próximo, à medida que submerge em seu próprio e estreito sofrimento.
- A face austera do sádhu suavizara-se notavelmente. - Quem toma o escalpelo e pratica o dissecar de si mesmo, experimenta uma expansão de piedade universal. É aliviado das demandas ensurdecedoras de seu ego. O amor a Deus floresce em semelhante solo. A criatura volta-se finalmente para seu Criador, senão por outro motivo, ao menos para perguntar com angústia:
“Por que, Senhor, por quê?.”Através das ignóbeis chicotadas da dor, o homem é conduzido afinal à Presença Infinita, cuja beleza deveria ser a única e fasciná-lo.