SONHO NÃO VIVIDO

Carlos Lira

Agora...

Passada a hora, entendo bem...

O que sinto, o grande vazio, padecer tardio,

O autocontrole perdido, por sentir o latejar da saudade,

De amar ao relento, sentindo o luar me beijando,

Ao sabor do vento, vou-me revelando...

Entendo agora a dor de uma vida sem ternura,

A face fria do que passou, do tempo ido...

Pausadamente marcando horas inúteis...

Do amor proclamado, encimado sobre os ais e os tormentos,

Sem contentamento, martelando noites inteiras,

Sabendo não saber como expulsar esse sentir,

Deixando palavras sem nexo, perdidas pelo mundo afora,

E sentir somente uma ausência febril, o silêncio e nada mais.

Conheço a desconhecida lacuna, que por vez nenhuma me povoou os sonhos...

O silêncio da vida catalogado pelas idas e vindas, a fome de beijos,

Os beijados ou não, agora entendo este clamor em ecos constantes,

Que por instantes vem-me povoar fantasmas, miasmas deletérios de ontem,

Entendo agora estas sombras vadias que me invadem a vida,

Em evasivas deixei de amar...

Entendo agora essa vontade voraz de ser e de ter,

De amanhãs que jamais em mãos as terei,

Por mais que tente, do passado as portas jamais se abrirão,

Hoje sei...

Que apesar de eruditas palavras,

Esse amor nem se manifesta e faz em sons plangentes

Dormir meu sonho em paz...