O Sabiá de Piracicaba

Deitada ao chão vendo o azul do céu

Coração descrito o amor em papel

Deitados às sombras das árvores

Equilibrado ego em tristes saudades

Fecho os meus olhos diante do Rio

No desejo de um abraço feito funil

D'entre uma suave brisa do sonhar

Distante a vida do tempo em amar

O imenso Rio de Piracicaba

Tem a força que eu buscava

Chorei diante destas águas fortes

Fluindo em poesias todas as sortes

Ouvi um lindo sabiá que cantava

Diante da mangueira que dançava

Um olfativo aroma da minha doçura

Inebriante sorriu fazendo travessura

O meu amado pai que em sua infância

Era um loirinho endiabrado em abundância

Com coragem subia nas árvores frutíferas

Muitas quedas tinha e quase mortíferas

Serpentes fugiam aos rastejes à eufórica

Animação e inocência tão pura e calórica

Goiabas, jabuticabas, romãs e acerolas

Enfeitando a cidade feito pipas e rabiolas

Do outro lado estava em flores florindo

Meu amado pai todo de branco e sorrindo

Uma linda ponte feita em ferros e madeira

A vida e a morte ao lado de uma mangueira

Seus frutos vigorosos e apetitosos

Chamavam ao chão os vermes penosos

Mesmo que ainda houvesse a podridão

O amor era forte e invadia aquela solidão

Diante dos frutos ruins há sempre um isolado

Meu pai pegou com amor aquele jogado de lado

Com suas mãos sem forças e já tão envelhecidas

Abriu no chão um plantio em atitudes acrescidas

Lágrimas regaram a solidificação de uma família

Daqueles que na ganância não mais se pertencia

O fruto brotou com o amor, o respeito e a humildade

Em esperança do renascer sua infância e felicidade

O Rio de Piracicaba fez o testemunho em toda paixão

O sabiá exaltou os batimentos daquele puro coração

Em glórias e intrínsecas harmoniosas batidas de asas

Seu doce paterno feito da canção e de amor à sua casa.

A natureza me inspira

Ela tanto faz e me instiga

Em seus últimos momentos

D'entre tantos sofrimentos

Ele estava triste na UTI sozinho à me esperar

Depois das maléficas serpentes tanto nos separar

Meu pai com minha chegada o meu amor pôde sentir

Beijei, cantei, fiz carinho lhe desejando a cura à fluir

Ele é vivo nas águas do Rio de Piracicaba

Ao cantar do sabiá que sempre o animava

No plantio do fruto que brotou ao florescer

No pôr do Sol que é lindo em puro enaltecer

O sabiá de Piracicaba cantou

Ele anunciou quem me amou

O Rio que chorou poderosamente

Fez a partida do meu pai bravamente

No final de tudo em ver uma linda flor nascer

No plantio das margens do Rio ao entardecer

Meu pai estava feliz em ter a sua vida em mim

O nascer somente renasce do amor e não do fim.