Anjo de fogo

Porque amar é também escolher ficar,

Doar o espírito ao anjo de fogo que reivindica o direito,

De, inda, nesses tempos banais deleitar,

Do prazer das incertezas e do leito imperfeito.

Implacável anjo que queima todo pudor,

Todo receio, todo medo e todo muro,

Vejo-te no extremo doutro precipício em ardor

A engolir sem mastigar passado e futuro.

Rege os amantes com base na miopia,

Ou na quase total cegueira adquirida através dos ácidos,

Homogeneia bem e mal, dor e euforia,

Reformando casebres ruinosos em palácios.

Escuto daqui também seu grito de ordem:

Abrace-me, deixe-me reinar na combustão,

De toda a mediocridade e embaraços que te mordem,

Até todo esgotamento de todo ranço da razão.