ALVORADA

Ela fugiu pela madrugada...

Deixou o silêncio no espelho,

uma velha mensagem desenganada.

Saiu quase nua,

com olhos iluminados de lua

e com o passo quase que fugaz

esqueceu de fechar o portão

e as janelas que dão para aquela noite abissal,

aqueles dias de porão

Jamais voltou...

Procurei nos jornais,

nos hospitais,

tentei em todos os ramais.

Em vão...

Desatinei pela rua,

e o cansaço erguia pedras monumentais,

o tempo correu como um vento

quebrando aço nos vitrais.

Fui parar no avesso da esquina,

daí entrei a beber, a beber:

...desenganos enfadonhos...

Eis que surge uma menina,

ferida de mortal beleza,

meio que princesa a correr, a correr

...da neblina dos sonhos...

Aproximou-se com seu andar felino

e sussurrou em minha nuca:

“ela sumiu!, evaporou no ozônio”,

dissolveu-se na aragem da madrugada...”

...quando virei para si,

deu-me um beijo de alvorada.