Paixão
Apaixonei-me pelo primeiro raio de sol que rompe a profundidade da noite.
Pela primeira onda que toca os pés, depois de toda uma ausência.
Pelo silêncio de um surdo, pela luz que guia o cego, pela mão que tateia um nome.
Apaixonei-me pela certeza de encontrar no ponto certo a pressão de um abraço, o entrelaçamento de pernas suplicantes na superfície serena de dois
Apaixonei-me pela solidez de uma manhã que abraça toda última hora do beijo, esse mesmo beijo que aterra palavras não ditas
Apaixonei-me pela pele da maçã que emana cheiros de almas flutuantes de desejos permitidos, do cabelo que derrete sobre os olhos como lágrimas negras
Apaixonei-me pela presença desse passado, que revira o presente, e anseia pela chegada do vento que invade a sala e o seio de tudo
Apaixonei-me pela primeira gota de chuva que cai na parte penosa de ideias e desfaz e se perde no meio de tudo
Apaixonei-me pela sensação de morrer e viver na absoluta certeza de minha paixão