TACITURNIDADE DO TEMPO

Onde estavam todas as flores de minha primavera?

Onde brilhavam todas as estrelas de minhas noites escuras?

De onde viria a calmaria de minhas várias tempestades?

Onde haveria um cais ao meu barco açoitado no mar bravio?

Onde estava a poesia de minhas canções?

Onde se escondia o oásis de meu deserto?

Onde habitava a paz de minhas guerras?

Onde adoçava o mel que este amargurado coração necessitava?

Onde escrevia as respostas de minhas perguntas?

Onde estavam os sonhos de cada adormecer?

Onde encontraria o remédio de minhas feridas?

Onde jorrava a água que saciaria minhas sedes?

Quem sabe essa primavera seria sem flores,

E essa canção já não tivesse mais poesia,

De todas as dores e temores, o tempo era o sal na ferida,

E tudo o que procurava, onde estaria?

Oxalá as respostas fossem flor temporã,

E ouvissem aos clamores de minhas angustias,

Mas nem meu brado fragmentou a taciturnidade do tempo,

Quando seu silêncio era meu castigo.

Mas as estações dão seus frutos na estação própria,

E aos que antecipam por vezes apodrecem sem amadurecer,

E pacientemente eu suportei o tempo para desvendar,

Que minhas procuras se resumiam ao amor que encontrei em você.

Leonardo Guimarães Rosa
Enviado por Leonardo Guimarães Rosa em 18/07/2017
Código do texto: T6058445
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