Criar amores

Eu crio amores.

Imagino amores improváveis numa simples troca de olhares.

Imagino encontros e desencontros.

Começos e fins.

Invento diálogos e declarações românticas.

Vejo um romance onde só existe resiliência.

Vejo sinais de um futuro feliz onde não há nada.

Treino caras e bocas em frente ao espelho.

Apaixono-me toda vez que o vejo.

Suspiro por cada mensagem virtual com um emoticon fofo.

Sinto perfume e gravo recordações em cheiro de um pós-barba qualquer.

Derreto-me toda por frases soltas e sem sentido.

Acredito em possíveis sentimentos expressos que não existem.

Ignora minha intuição por migalhas de atenção.

Encontro desculpas para as suas visualizações não respondidas, quando são na verdade apenas falta de interesse.

Empolgo com um olhar demorado.

Moldo personalidades perfeitas demais.

Espero uma reciprocidade que nunca vem.

Desenho um ser mais bonito do que aparenta.

Alimento uma esperança juvenil de que dessa vez será diferente.

Já escuto a marcha nupcial e imagino os risos na chuva de arroz.

Eu alimento expectativas de uma felicidade plena com uma pessoa que só exite nos meus sonhos.

Isso nunca, nunca mesmo será real.

É apenas um passar do tempo enquanto observo a paisagem da janela do ônibus.

A minha mania de criar amores é alimentada pela poesia.

O poeta pode delirar sem culpa.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 22/05/2017
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