Catarse
Se me tomam o cérebro os versos, é sinal de que me toma o coração o amor?
Mas não compreendo ser capaz de germinar tal sentimento em terra infecunda.
Se me deixam os olhos abertos à noite os pensamentos, estaria correndo em meu sangue a paixão?
Mas nunca ouvi falar de tal sentimento em terreno ácido outrora abandonado pelo bom senso.
Talvez haja esperanças para uma vida que se esvai em esquecimento?
Quisera a alma não abandonar-se mais?
Não creio que me inunde a verdade, pois ela jamais foi conhecida.
Não há temperança em meio ao caos, tampouco liberdade em meio às correntes do egoísmo.
De mim purgam apenas a aceitação de um mundo em putrefação.
Da minha boca saem apenas os malfeitos da emoção.
E essa breve loucura da morte da razão
Não passa de fraude, engano ou traição.
Viria tu ao meu socorro impugnar minhas convicções?
Ou seria tu o meu algoz?
Tu não podes saber!
Afinal, de meu túmulo não mais emana a vida!