O fio da navalha
De repente, não mais meu canto;
Secou-me a voz, calou-se o pranto.
Sem forças, não mais o meu choro,
Nem ouço dos anjos o coro.
Onde estarei, se não me vejo?
Cego de mim, nenhum lampejo,
No horizonte, de luz ou fogo.
Cansei demais, saí do jogo.
Fui mártir e também bandido.
Agora, soldado banido
Do próprio campo de batalha
No fio cruel de uma navalha.
Cortaste fundo a minha carne
Por maldade ou então escarne.
E o teu riso foi pedregulho,
Para ferir o meu orgulho.
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N. do A. – Na ilustração, Moça ao Lado do Limoeiro de Emile Vernon (França – 1872-1919).