O fio da navalha
 
De repente, não mais meu canto;
Secou-me a voz, calou-se o pranto.
Sem forças, não mais o meu choro,
Nem ouço dos anjos o coro.
 
Onde estarei, se não me vejo?
Cego de mim, nenhum lampejo,
No horizonte, de luz ou fogo.
Cansei demais, saí do jogo.
 
Fui mártir e também bandido.
Agora, soldado banido
Do próprio campo de batalha
No fio cruel de uma navalha.
 
Cortaste fundo a minha carne
Por maldade ou então escarne.
E o teu riso foi pedregulho,
Para ferir o meu orgulho.


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N. do A. – Na ilustração, Moça ao Lado do Limoeiro de Emile Vernon (França – 1872-1919).
João Carlos Hey
Enviado por João Carlos Hey em 31/03/2017
Reeditado em 15/11/2020
Código do texto: T5957535
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