Amor liquefeito

lentamente pus os sapatos em meus pés

e amarrei os cadarços com uma fraca esperança

de um retorno

ou de uma palavra que algo diz

recebi aquele olhar atônito e fugaz

de quem ali só está em corpo

e que, por dentro, uma fusão de desconforto e orgulho estufa no âmago

eu parti sem retorno

como tantas

e tantas vezes o fiz

como tantas vezes chorei convulsionando

cansada da luta

cansada de um amor construído de pranto em pranto

como se fossem tijolos em que na primeira ventania se partem

eu não quero um amor liquefeito

que só em mim existe e permanece

meu corpo se desfaz num orvalho de arrependimentos e dores

e um afeto já gasto e cansado assola no peito

e, depois de um tempo incalculável

traguei num cigarro o intragável sabor de uma solidão tardia

solidão essa sempre presente

e só agora vista

Amanda B
Enviado por Amanda B em 13/11/2016
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