A frase da tempestade
Ah, minha doce Miranda,
Construiu a tempestade sobre os muros erguidos à tua sombra;
Um castelo de pedras imensas ainda sobrevoa a tua varanda.
Quem sou eu?
O meu amor se perdeu na vontade do teu ,
Enxugado com o pano de chão, como um lenço enrugado,
Que varreu junto com a saudade o piso molhado de porcelana;
Em cada frase vitrificada pelo calor alto da chama,
Quando nas paredes da prisão, me tomaste;
Na torre que tu declama meus versos, escreveste, numa casa branca,
Num único movimento, encurralando o meu Rei,
Riscando com tuas unhas as mesmas pedras que construímos o cais...
Sei que me amas,
E na penumbra da noite, uma ave soturna clama por seu desamor,
Os olhos com a pouca luz, feita do sombreiro, chora sem pudor,
O alveiro é uma prisão,
Onde o abraço do seu temor se faz companheiro;
Tão solícito quando parte,
nas águas límpidas dos rios que foram poemas iludindo a minha dor.
Criaram franjas nas pálpebras frias da lua,
pudesse ser tua essa dor e com amor eu lhe daria a cura,
A paz refletida no denso amargor das águas,
Como foram as brisas levantadas na supremacia do seu olhar...
Não posso navegar, e o mar é apenas uma das tuas mãos de mulher,
Que recolhe o broto da nascente do que fui um dia;
Como serventia do vento da noite,
Provê com o passar do tempo a fome diante do prato da expectativa;
Na outra mão a ventania tem uma colher,
E a vontade do coração maltratado se fazendo altiva
Espalhando as rimas da minha poesia quando a mexe como sopa;
Lembrando-me essa manhã despida que nos apeteceu,
E se fora dissipando sem roupa,
tão simples quanto no dia em que nasceu,
Quando perdeu o sorriso, e morreu no fim de uma tarde qualquer...