Presença
O tempo que não passa,
Ou passa muito depressa
Os carros que não param
As buzinas que, mesmo barulhentas,
Não são mais altas que
A dor da multidão.
O relógio automático que está sempre
A gotejar
Conduzindo as regras
Do tempo que já não volta atrás.
O caos da cidade,
O céu apagado
O abraço desatado
E o laço que já virou nó.
Nó esse que emaranhou
Todo o amor,
Transformando-o no medo
Daquilo que é singelo.
Ou talvez,
O medo de se fundir,
A este conjunto esdrúxulo
Movido pelo dinheiro,
E pela ganância.
Ele só quer olhar o sol,
Admirar a beleza
Que se esvai aos poucos
Neste planeta efêmero.
Ela só quer respirar,
Contemplar em silêncio,
Com um sorriso no peito,
Aquilo que ninguém nota.
Eles só querem existir,
Satisfazendo-se em viver,
E, quem sabe,
Algum dia se esbarrarem,
Por sorte,
Ou por destino.
Para que, juntos,
Possam observar a luz da lua
Para que, talvez,
Possam conversar
Sobre os mistérios
Dos encontros e desencontros.
Para que,
Percebendo a realidade a cada segundo
Sintam a paz em meio à desordem
E possam caminhar.
Diferente da maioria,
Que corre
Sem saber para onde vai.
Diferente daqueles
Que se escondem da chuva,
E não notam o tempo desperdiçado,
Ou o sorriso daquela pessoa
Do outro lado da rua.
Eles querem sentir cada detalhe
De suas consciências,
Sentir em seus pulmões
A calmaria e a presença.
A calmaria de amar
A presença um do outro,
E, apenas isto,
(Ou tudo isto)
Bastar.
04/2016