Sobre relações que simplesmente tem que acontecer

Depois de muito tempo na UTI, centro médico e várias e VÁRIAS camas, finalmente eu li o texto que mais me emocionou na vida da autora que eu mais amo também..Ju...eu tô MUITO emocionado!!! difícil até escrever..mas você merece!!! amor da minha vida!!!!

Da autoria de Julia Francheti.

“Nunca acontece com a gente” é uma frase que eu costumava acreditar e, mesmo a minha vó sempre me dizendo que poderia acontecer sim, eu não acreditava. Conheci o Paulinho há uns anos, talvez uns quatro. Ele diz que foi há mais tempo que isso. Nos conhecemos e me veio uma frase de uma amiga: “Nossa você reparou o que aconteceu aqui? Você conheceu seu futuro marido.” E eu ri. Nunca acreditei, nunca fui romântica. Se você me perguntar eu diria que sou bem chata pra essas coisas do coração. Então a gente se conheceu, resolveu ficar, ser só amigos, ficar de novo, nunca mais se falar, e então, depois de anos, namorar. Ele não queria, nem eu. Foi só uma coisa inevitável, pois eu percebi que podia rodar o mundo, mas sempre acabava nos braços dele e ele percebeu que podia conhecer milhares de mulheres, mas que eu era única. Sendo assim resolvemos namorar e tudo ia bem, magicamente bem! Não digo que sem brigas, afinal, com os nossos gênios, era impossível não ter briga. Mas, em geral, estávamos bem e eu (quem diria?!) fazia planos para o futuro! Ele (quem diria?!) controlava aquele gênio indomável.

Um dia ele foi embora da minha casa, dizendo que gostaria de ir a um bar com os amigos. Controlei o meu ciúmes e disse que ele poderia ir desde que me mandasse uma mensagem quando chegasse em casa. Era 22h40 e eu tive um arrepio, comentei com a minha prima que algo não estava certo com o Paulo e mandei mensagem. Ele respondeu. Alívio! Mandei outras mensagens, mas ele não respondeu mais. Então eu liguei, quase meia noite, pronta para brigar por ciúmes, para exigir explicações bobas e alguém atendeu. A voz que eu nunca ouvira antes me disse “Júlia, preciso que você se concentre, houve um acidente, o Paulo... bom... o Paulo... ele... é... bom... ele está respirando”.

Nunca mais essas palavras vão sair da minha cabeça. Eu fiz o que pediram e dei o telefone da família. Fui forte, mas tenho certeza que a minha mãe não vai se esquecer do dia que eu a acordei chorando e gritando dizendo que o Paulo corria risco de vida e ia entrar em cirurgia (cirurgia do crânio!!!!), porque ele sofrera um trauma! Eu não o reconheci quando o vi pós-cirurgia. Confesso que desmoronei, e que não me lembro de muita coisa daquele dia. Chorei, simplesmente. Eu estava sozinha, minha família não era daqui, a família dele em choque, minhas amigas ainda não sabiam. Chorei. Muito. E então percebi: a família dele precisava de mim, os amigos também e, principalmente, ELE! Me enchi de uma força que eu não sabia que tinha e não saí do lado dele, levei fotos quando ele não podia ver, música quando ele não podia ouvir, conversei quando ele não entendia, fiquei com ele quando ele não lembrava de mim. Rezei. Pela primeira vez em 20 e tantos anos, eu rezei. E muito.

Hoje o Paulo saiu da UTI. Está no quarto e precisa de cuidados 24 horas por dia ainda, mas a mãe dele e todos os amigos me mandaram uma mensagem dizendo: “Júlia, se ele teve a recuperação que teve, foi por causa de você!” e a minha força cresceu. Não sei o que vai ser daqui pra frente, ninguém sabe. Mas eu estarei com ele sempre. Agora que ele está apresentando melhoras e surpreendendo os médicos e mesmo que ele venha a piorar. Estarei aqui sempre. Eu devo isso a ele e à pessoa que ele é e sempre foi pra mim.

Algo que me deu muita força e vontade de continuar foi o dia em que conversei com um amigo do Paulinho, o Rafael Riskalla (namorado da Bru). Ele me disse que a galera da Puccamp gostaria de ajudar, dar um apoio e ajudar a família do Paulo e que eles iriam realizar um evento para arrecadar dinheiro para o tratamento do Paulo que deverá ser feito depois da internação (fonoaudióloga, fisioterapeuta, psicóloga, despesas com medicamentos...). Aquilo me mostrou que eu não estava só e pensei também no que o Paulo sentiria quando soubesse que todos os seus amigos se mobilizaram, que alguns organizaram uma festa e muitos foram a tal festa, que a bateria tocou e que as bandas se dispuseram a trabalhar sem cachê, que a república disponibilizou ou espaço gratuitamente. Aquilo me deu mais força para continuar. Sabendo que não estava mais só e sabendo que uma corrente de energia positiva se formava eu continuei. Nem sei como, mas continuei.

Os mesmos médicos que diziam pra eu pensar minha vida sem ele, me agradecem por nunca ter desistido. Com um sorriso no rosto me dizem: “Força, querida”. A gente nunca acha que pode acontecer com a gente, mas pode. A gente nunca acha que teria forças, mas tem. Ele tem melhoras, abre o olho e procura por mim no quarto, responde a tudo que eu peço e os médicos não tem mais dó de mim, têm gratidão. Eu agradeço, agradeço ao apoio de todos, agradeço ao Paulo de me deixar fazer parte da vida dele, agradeço aos céus pela força que eu tenho tido. Não desistirei dele nunca, mas sempre ficarei com o medo de ligar pra ele e, um dia, alguém atender, e me dizer a mesma frase dita antes. Por isso seguirei a mesma diretriz que sempre segui: falar o que for tenho vontade, sentir e demonstrar. Porque o que me conforta hoje é que eu sempre disse a ele o quanto eu o amo e o quanto ele é especial para mim.

Paulo Orlando Iazzetti
Enviado por Paulo Orlando Iazzetti em 20/09/2015
Reeditado em 03/10/2019
Código do texto: T5388373
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