METADE DE NÓS DOIS — um lamento de saudade e solidão

Que se passem mil anos! Tudo passa,

mesmo a rosa que traz a primavera.

Tempo leva o que traz; beleza e graça

não suportam a dor de tanta espera...

Hoje é ontem que está se repetindo;

amanhã é também o que já foi...

Solidão é um par se dividindo,

um é ser a metade se eram dois...

Não há como somar se não se sonha,

nem há como saber se não buscar.

Pra ser visto é preciso que se exponha,

pra seguir tem que às vezes recuar...

Que se passem mil outros! Muitos vêm

e assim como vêm também se vão.

Vida vai, vida volta. Há sempre alguém

Que se esbarra na mesma solidão...

Hoje é ontem que está se repetindo;

amanhã é também o que já foi.

Solidão é um par se dividindo:

somos hoje a metade de nós dois...

São Lourenço da Serra-SP, 4/11/1992 – 13h58min