FECHO A CORTINA E ANOITEÇO

Desconfiada de minh’alma!

Parece que bebeu cachaça

Fazendo pirraça...

Zombando de mim.

Ventilam as incertezas...

São férteis as forças que me arrebatam.

Caminho sob as brasas quentes

Das ilusões que ainda inflamam.

Vejo as cinzas dos meus sonhos

Flutuando tal qual leve pluma.

Alimentei espectros!

Embriaguei-me de estrelas.

Fiz da lua minha cúmplice...

Rezingando meus segredos.

As horas passam mansas

Enquanto a insônia me devora.

Arranquei você de mim.

Estou sangrando!

Acendo incenso invocando os anjos.

Com devoção faço uma prece! Ele aparece!

Preciso da proteção dele sua presença

Ampara-me... Consola... Ilumina... Guarda.

A brisa arretada entra pela janela

Convidando-me pra caminhar com ela.

Vejo as pedras às nuvens a relva

Beijadas pela chuva afável.

Queria ser pedra também.

Estrela matutina!

Primeira luz do dia!

Pela fresta me espia.

A noite se despede

Logo vai acordar o dia!

Fecho a cortina e anoiteço.