Herança

Sou a herdeira

do sangue poético

de artistas sufocados

pela frieza do mundo.

Sou a herdeira

da própria frieza -

uma aparência

que garante sobrevivência.

Sou a herdeira

do sangue sonhador

que colore os meus dias,

e cuja força, eu nego.

Sou a herdeira

da própria (a pura) negação:

a negação dissimulada

através de bons raciocínios.

Mas sou a herdeira

da reflexão,

da contemplação,

e do boicote

ao que nos é imposto,

e que cedo ou tarde

eu sofreria em mim.

E desta herança tão intrínseca

e naturalmente imposta,

sou a herdeira do amor -

também herdado, mas

confundido (ou confuso),

mascarado, e (por medo)

dissimulado, -

que, ao ser escolhido,

nada mais sobrará.

Mas só o amor

nos salvará.

Alecrim Cristal
Enviado por Alecrim Cristal em 29/11/2013
Reeditado em 21/04/2016
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