SACANAGEM

sorrio caipirinhas tristes

embaixo do luar que chora estrelas

o carro fala por mim porque o coração insiste

em saudadear rasteiras

aonde vou arrisco o voo

arrastando pistolas amolecidas de tanto errar

como a bagagem arriada d'um viajante que dessonhou

e mesmo assim manteve o passo em cima do ar

apenas enxergo longe

porque mergulho os pés no rio

minha manga a carta esconde

da cigana cujo nome fio

porque o cio sem você

é personagem anônimo/

o que busco: fertilidade e ânimo

o meu corpo pede prazer

é a sua oferta de seiva na fenda

que agasalha minh'alma

espero que entenda: a fauna

das intensidades permanentes

é nas suas entranhas

a cumplicidade da terra com as sementes

quando a distância a manha

o que brilha no desconhecido

a sanha safada de uma sacanagem

quando da chuva a estiagem desveraneia o abrigo

aonde sirvo a ceia na molecagem contigo