Voos noturnos.
Aves noturnas a traquinarem desejos,
Sobrevoam o negrume da noite que diz,
Nos solfejos do vento, dos velhos realejos,
Que com cumplicidade o voo é feliz.
A paixão é o breu que turva o olhar
Dessas aves traquinas e inseparáveis,
Que não perdem o afago do plácido voar
Pois já padeceram de ventos instáveis.
Aves boêmias nos galhos a estacionar
A procura do ninho que lhes seja aconchego.
Dribla-se os orbes no céu a vagar,
A causar-lhes a fúria e o desassossego.
Sufocados os gorjeios por ora proibidos,
Apenas voos felizes em ventos confusos,
Marcantes deleites por amor permitidos,
Pois são breves voos de cunho escusos.
No entanto o que esses voos embala
E faz correr riscos para se entenercer,
É a felicidade tamanha que cala
Os ais que resultam de imenso sofrer.
São as aves noturnas cegas de dia,
De rotas negadas aos sãos corações,
E o voo, no entanto, instintivamente desvia
Mas nem sempre evita os ardis das paixões.