Olho no olho.

Desde o instante em que nossos olhos se cruzaram,

até o momento em que se descruzaram,

surgiram ideias perenes.

Uma força silenciosa fez nossa visão se tornar equivalente aos fenômenos naturais:

cíclicos, repetidos, e cada vez mais prolongados...

previsíveis...

E nos intervalos,

não havendo o que olhar,

nossas almas ganham olhos...

para fitar no imaginário as situações não programadas para se encontrar.

Nos intervalos,

os olhos buscam no horizonte, nos cantos, portas, janelas e valados os seus pares,

a par de desejos invisíveis

que angustiam o coração, irritam o pensamento, geram desespero e desesperança.

Mas o novo encontro,

antecedido de acelerações sumárias da pulsação,

quase suficientes para se ouvir batidas do tambor de carne,

revelava um alívio equivalente ao do sedento quando encontra água,

ao do que encontra o que havia perdido,

ao do que encontra o verdadeiro amor.

Nesse momento único, inesquecível,

um paradoxo: o mundo para, mas o tempo voa.

Seria isso a eternidade rápida ou a paixão atemporal?

Não sei.

Só sei que o amor faz querer parar o tempo,

pois quando os intervalos chegam,

não se ver, não se olhar, não se encontrar,

faz doer tudo.

Por favor,

continue olhando para mim

enquanto olho para ti,

Nosso olhar não mente:

não há como esconder o que sentimos simplesmente fechando os olhos...

ou olhando para os lados.

Quero olhar para ti ao mesmo tempo em que me olhas.

E olhando nos teus olhos, dizer tudo o que sinto:

eu te amo.