APROVEITAR A VIDA

(O lema e o dilema de ser incauto)

O incauto sempre diz:

“Preciso aproveitar a vida,

Que é curta e de morte certa.”

Eu te pergunto, incauto:

“O que é aproveitar a vida,

Que tanto esbravejas?”

Nem o incauto e nem ninguém

Sabe ao certo o sentido da frase.

Cada qual tem seu modo de vida,

Seu ideal de procura e realizações.

Só sei que tomar cerveja e comer carne;

Não é o único formato de viver.

Ouvir música em volume estratosférico,

Num explodir de tímpanos,

Não configura gosto musical apurado.

Esse seu aproveitar a vida,

Delimita de forma grosseira,

A evidência de que não te completas.

Música com letras de péssimo gosto,

Mostra sim o quanto tu és despreparado.

Então, incauto, aproveitas a vida,

Como proferes aos quatro cantos.

Ah, incauto, a tua propalada sanidade

Configura-se num desalentado estado

De insanidade de vida e desfalcado

Das instituições a que te poderias firmar.

Entregas-te, incauto, ao saber profético

Que te eternizará no seio dos que te rodeiam.

Incauto sombrio, o temerário te impõe;

As horas ingratas te chegam funestas,

As exigências da vida te saboreiam.

Porém, incauto, deixe de ser incauto.

Seja apenas um ser em plena vivência.

2.012