QUARTO DE HORAS...

E ainda tu me perguntas...

o quê de mim me levaste?

Tu me levaste meu melhor verso...

No pulso das horas estupefatas,

da poesia aflita, de letras embargadas...

Tu me levaste a pena trêmula...indecisa...

A rima incerta... já não tão precisa...

Tu me levaste a métrica perfeita...

minha consciência nunca mais refeita!

Tu me levaste o brilho da clara alvorada

nos primeiros pios da então madrugada...

Tu me levaste a calma dos chuviscos,

e a precisão dos meus tênues rabiscos...

Tu me levaste o teu carinho extremo...

o resto do meu sorriso largo... pleno...

perdidos num céu de novembro!

Resquícios dos meus desejos fugazes...

até isto... tu me levaste!

Nossas marcas indeléveis

amarfanhadas na bagagem...

nem isto...nem isto tu me deixaste!

Tu me levaste...

num quarto de horas de vida...

... minha inocência ...insanamente ferida!

Ah!- quanto tu me levaste!

-Quanto!

E ao me buscar nos meus restos,

do tudo que tu me levaste ...

me encontro dentro de ti:

... nem mesmo a mim me deixaste...

SP,21/02/2006

Publicado em coletânea a "Pizza Literária" da SOBRAMES/SP/2006