O gosto da Alma

Os anos que passam

Nos deixam amores vãos e vindos.

Os amores vão e vêm...

Os amigos e ninguém,

E eu: porta entreaberta do destino.

Os dias se completam,

As horas me espetam,

Badalada por badalada

Num ofício soluçante

Como a catedral dos amantes.

Passam furacões por nossas vias... Terremotos!

Os mortos do nosso peito vão apodrecendo.

A vida é um círculo doido,

Tal qual uma pomba-gira

Que nunca desnorteia.

O mundo é um espiral,

Mosaico, caleidoscópio...

E por trás desse palco de ilusões

As paixões se jogam (jogam!), se batem,

Liquefazem-se... As paixões!

Eu sou palhaço nessa arena!

Roda-viva. Sou mais um.

Mas meu Um, sempre lato,

Nunca aquiesce,

Contracena com paroxismos.

E, nesses espasmos de zaratustras;

Nesses intermináveis breus

De filosofia acéfala

Encontro você,

Fora dessa loucura desordenada

Para a cura da insanidade.

Aparecer do nada e ser tudo,

Ter tudo e não pedir nada.

Você me tocou, roçou-me,

Calou-me e eu - Chorei...

E agora, o que fazer!?

Agarrei-me em prantos,

Em tantos, tantos anos sem fio.

Tu não apareceste

Porque o destino quis assim,

Apareceste porque te fizeste aparecer

E ser mais do que a mais

Apolínea divindade,

Sem idade e sem vaidade.

Unificada à placa de Febo.

Você tocou em mim!

Sussurrou para mim,

Mas não no meu ouvido... no meu coração.

Você me beijou... não nos meus lábios,

Mas na minha alma.

Agmar Raimundo
Enviado por Agmar Raimundo em 27/11/2006
Reeditado em 15/03/2017
Código do texto: T302673
Classificação de conteúdo: seguro