O gosto da Alma
Os anos que passam
Nos deixam amores vãos e vindos.
Os amores vão e vêm...
Os amigos e ninguém,
E eu: porta entreaberta do destino.
Os dias se completam,
As horas me espetam,
Badalada por badalada
Num ofício soluçante
Como a catedral dos amantes.
Passam furacões por nossas vias... Terremotos!
Os mortos do nosso peito vão apodrecendo.
A vida é um círculo doido,
Tal qual uma pomba-gira
Que nunca desnorteia.
O mundo é um espiral,
Mosaico, caleidoscópio...
E por trás desse palco de ilusões
As paixões se jogam (jogam!), se batem,
Liquefazem-se... As paixões!
Eu sou palhaço nessa arena!
Roda-viva. Sou mais um.
Mas meu Um, sempre lato,
Nunca aquiesce,
Contracena com paroxismos.
E, nesses espasmos de zaratustras;
Nesses intermináveis breus
De filosofia acéfala
Encontro você,
Fora dessa loucura desordenada
Para a cura da insanidade.
Aparecer do nada e ser tudo,
Ter tudo e não pedir nada.
Você me tocou, roçou-me,
Calou-me e eu - Chorei...
E agora, o que fazer!?
Agarrei-me em prantos,
Em tantos, tantos anos sem fio.
Tu não apareceste
Porque o destino quis assim,
Apareceste porque te fizeste aparecer
E ser mais do que a mais
Apolínea divindade,
Sem idade e sem vaidade.
Unificada à placa de Febo.
Você tocou em mim!
Sussurrou para mim,
Mas não no meu ouvido... no meu coração.
Você me beijou... não nos meus lábios,
Mas na minha alma.