INGRATIDÃO

Quantas dores pode suportar

Um pobre coração?

Quanto pra mim,

A maior é a ingratidão.

Amar é se dar, se doar

Se dedicar a alguém

Que nem sempre

É capaz de reconhecer

Tamanhos sacrifícios.

A intenção do que se quer fazer.

Amar um homem, uma mulher

Um pai, um amigo, um irmão

Uma mãe, dentro da questão.

Amar um filho

É esquecer de si próprio

Morrer para o mundo

Amor mais profundo.

Esquecer que é mulher

Esquecer que é um ser.

Deixar de vestir

Deixar de comer

Muitas vezes deixar de viver,

Mas para quê?

Para ouvir palavras

Que penetram na alma

Como um punhal dilacerando víceras

Sangrando e ardendo

Em dores tão insuportáveis

Que tiram as forças para gritar,

Apertando o peito e a garganta

Num brado silenciado

Pela dor da ingratidão.

E por quê tudo isso?

Ter filho é padecer no paraíso

Como disse o poeta.

Terá sido disso sua morte, então?

Ah, ingratidão!

Dor que me deixa desarmada

Porque meu amor é a única arma

A qual tenho para contra-atacar.

Criamos filhos para o mundo,

Criamos filhos para vida,

Criamos filhos para amar.

Não são nossos, filhos meus!

São apenas filhos de Deus.

E é o mundo, a vida, nosso Deus

Que vos farão ver

O que a falta de um amor

Será capaz de fazer.

Quantas dores pode suportar

Um pobre coração,

Quanto para vocês,

A maior será a Solidão.