DUETO COM A POESIA FELICIDADE DE GUILHERME DE ALMEIDA (1890-1969)


FELICIDADE
Ela veio bater à minha porta 
e falou-me a sorrir, subindo a escada:
" - Bom dia, árvore velha e desfolhada" 
e eu respondi: - "Bom dia, folha morta"

Entrou: e nunca mais me disse nada... 
Até que um dia (quando, pouco importa!) 
houve canções na ramaria torta 
e houve bandos de noivos pela estrada...


Então chamou-me e disse: "Vou-me embora! 
Sou a felicidade! Vive agora 
da lembrança do muito que te fiz"


E foi assim que em plena primavera, 
só quando ela partiu contou quem era... 
E nunca mais eu me senti feliz!


Guilherme de Almeida 

1890 - 1969

*****

 ILUSÃO

Cibele Carvalho

 

Quando ela bateu à minha porta,

eu me lembro bem ( mas não importa !)

 lembro-me que folha morta eu não era,

e nem sequer estava à sua espera.

 

Entrou na minha vida e fez morada,

insinuou-se pelo vão da escada,

mas às vezes, me fugia apressada,

não me dava a segurança almejada...

 

Então, chamou-me e disse " Sou a ilusão!

Vou embora agora do teu coração!

Vive bem tua realidade."

 

E foi assim que em plena primavera,

só quando se foi, falou quem era,

e eu saí em busca da felicidade!

RJ, 25/11/10