À Musa
À Musa
Os poemas que não te escrevo
segredo-os ao ouvido da Lua
para que os transforme em luz
e ilumine teus olhos de Capitu
que simulam uma timidez plena
e só quem mergulha em teu avesso
descobre submerso ao mar
a rara pérola da ostra
e uma liberdade insana e tosca.
Deposito em teu corpo suado
nas manhãs, em que morta de sede,
te acordo e te bebo
e sofro sedenta dos beijos molhados
desse desejo infuso, loucamente desperto.
Escrevo em tuas pernas de Tereza
que de tão estúpidas, deixam-me tonta
ao desabrochar nas horas mortas
e ao serem tocadas delicada ou abruptamente
estremecem e quase gemem pelos pêlos ausentes
a banhar-me de uma chuva densa e sedosa.
Posto em teus lábios de Iracema
com um veneno doce e frio
que ao ingerir, incendeia minha alma
me congela em tua ausência
e sou tomada por um desejo suicida
de te beber e me envenenar mais e sempre
degustar-te e morrer e voltar a
ressuscitar sedenta para a morte.
Digito cada verso com rapidez de datilógrafo,
de olhos fechados para as teclas, apenas toco
a máquina, os seios, umbigo, ventre, sexo.
dedilho como se não mais escrevesse
e ouvisse uma linda música nascida do sax
e por milagre tirasse de ti a mais sensual das melodias.