Amor Além da Vida II (O Lado da Garota)

Duas voltas na chave e o corpo sobre a cama, vinte e um anos na cronológica e dez mil na espiritual, agora ela parecia estar em paz.

Havia tentado libertar-se dessa prisão inconsciente, no entanto ainda sentia a dor como um tapa forte em sua face pálida.

A solidão e a saudade lhe deixavam quase tocar o seu amado, em lembranças...

De repente, arregalou os olhos cheios de lágrimas, como quem encontra uma solução; de fato, talvez fosse apenas uma forma de amenizar sua dor.

Levantou-se e deu três passos até a penteadeira; havia um daqueles espelhos no melhor estilo “camarim de pop-star” cheio de luzes envolta; encarou-se ali por volta de dez segundos.

Atrás do espelho, num ponto quase secreto de seu quarto, onde a mãe limpava apenas na faxina do mês, pegou uma garrafa de vinho, gostava de beber um cálice ao dia; não por alcoolismo, mas sim digamos, por arte.

Destampou a garrafa deu um comprido gole direto no gargalo, pegou seu caderno da faculdade, surrado, -não era uma péssima aluna, mas também nunca foi a primeira da sala- ergueu os castanhos olhos -comparados aos de uma fada por seu saudoso amor- como quem perguntava a si própria o por quê de tudo aquilo, e, depois de mais um comprido gole em seu vinho amigo, colocou-se a escrever um poema, como de costume, tinha muitos deles.

Com suas mãos trêmulas, sentada na cama, com o caderno sobre as coxas, por cima de seu sobretudo molhado, da forma como havia chegado das ruas, escrevia:

“A vida entre nós”

O universo me fascina, com sua imensidão

E com tantos amigos, tanta solidão

Seria o cúmulo sentir-me o túmulo da minha própria alma

E trezentas e treze noites depois, nada me acalma

As minhas idéias parecem terem sido batidas no liquidificador

Por mais que semeie a felicidade, ela não brota onde fica a dor

Minha pele se arrepia quando penso no futuro

Minha alma permanece por detrás do muro

Ao fim partiste tão cedo, há coisas que não compreendo

E trago comigo a certeza que jamais compreenderei

Era então um destino inevitável e horrendo

Mas, agora é o passado que jamais esquecerei

Meu coração dispara cada vez que lembro teu olhar

Cálido, porém presente, em todos os momentos

Um tom alegre, contudo sempre em pesar

Como quem já sabia de seu julgamento

Por quê me deixaste tão cedo?

E o que eu faço com os meus medos?

A vida é algo cruelmente reticente

Desde que decidiu separar a gente...

Amanhã lhe deixarei mais flores...

Alex Fernando
Enviado por Alex Fernando em 03/05/2010
Código do texto: T2235282
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