VALSA DA QUASE DESPEDIDA
Num dia marcado pelo passado,
cansado de juízos tão presentes,
o amor, com triste sorriso entrementes,
quis desistir de amar em tal estado.
Mas era impossível o afastamento,
pois não se via o sol sem sua aurora;
sentimento eterno pela vida afora,
que seria dor aquele intento.
Resolveu ficar e, entre as lágrimas
de uma quase imatura despedida,
fez virar, do livro seu, estas páginas,
apagando da história de sua vida.
A valsa insistia em tocar constante
e o tanto amor, como que por castigo,
via-se só, num só e sempre instante,
com a fina dor a caminhar consigo.
Quis, pela razão, de amar se despedir
e, mais uma vez, veio-lhe o pranto;
não conseguiu novamente partir
e calar, em si, o doce encanto.
O amor, ao ficar assim nesse ensejo,
tomado de emoção da natureza,
entendeu toda a graça e beleza
Cerradas em seus lábios por um beijo.