Sombras que se encontram.

(Poet Ha, Abilio Machado. 101208)

Olhei meio sem jeito

O vulto esguio que passava

Olhei assim mais atencioso

O corpo malicioso que se aproximava

Me vi adentrando ao mundo de novo

Com o primeiro passo

Desbravador, sem medo

Me ouvi falando amor na praça

Uma voz que era a minha

Cantava e assoviava

Parecia que as grossas nuvens não vistas na noite

Emocionadas choravam

Minha roupa encharcada

Meus cabelos escorridos

Meus olhos brilhavam como estrela Dalva

Em alvo manto de luz e som

Meus pés me guiavam

Voltava para a casa

Abrigo do corpo quente

Uma esposa jogada à cama

Calcinha e camiseta

Descoberta

Meus dedos pelas pernas

Acordando os sentidos

Oásis e floresta

Na caverna de sombras

Os corpos se acharam

Quando encontraram

A pele, o cheiro

O mel...

Os lábios dizendo

Que saudades

Agarra-me e me come

Faz-me tudo e todo

Eu...