A MÃO AMIGA DE MEU PAI

A MÃO AMIGA

Hoje pensei em reaprender a rezar...

Mas desisti

Porque entre uma lágrima e um riso

Vi mais uma vez o paraíso

Com que me acenaste

E a tristeza em que caí...

Nunca mais pensei em ti,

Ou no amor que me implantaste...

Não repeti mais o Pai Nosso

Que me ensinaste quando em criança,

De joelhos ao lado do leito pequenino,

Rezando pelo mundo, na inocência de menino...

Já não tenho mais o fogo de quem almeja...

Nunca mais falei contigo,

Como se fala ao melhor e único amigo...

Apenas vago, em silenciosa solidão,

Porque tenho vergonha de voltar-me a ti

Que tanto me afagaste o coração...

Vergonha de pagar-te o amor que me dedicaste

Com essa negra ingratidão...

Mas meus vazios de alma

Clamam por ti, último refúgio

Quando vago sem rumo, sem abrigo...

E do berço amoroso, onde eu dormia após rezar

Resta apenas uma lembrança vaga de uma mão que afaga,

Que aperta a minha até que eu adormeça,

E que também rezando, pede que quando eu cresça

Não me deixe tomar pela tristeza do sonho que se esvai...

E hoje o homem que outrora foi menino

Quando vaga sem rumo e sem destino

Lembra do sono, do berço, e da mão amiga de seu pai...

* * *

JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 06/08/2008
Reeditado em 06/08/2008
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