A MÃO AMIGA DE MEU PAI
A MÃO AMIGA
Hoje pensei em reaprender a rezar...
Mas desisti
Porque entre uma lágrima e um riso
Vi mais uma vez o paraíso
Com que me acenaste
E a tristeza em que caí...
Nunca mais pensei em ti,
Ou no amor que me implantaste...
Não repeti mais o Pai Nosso
Que me ensinaste quando em criança,
De joelhos ao lado do leito pequenino,
Rezando pelo mundo, na inocência de menino...
Já não tenho mais o fogo de quem almeja...
Nunca mais falei contigo,
Como se fala ao melhor e único amigo...
Apenas vago, em silenciosa solidão,
Porque tenho vergonha de voltar-me a ti
Que tanto me afagaste o coração...
Vergonha de pagar-te o amor que me dedicaste
Com essa negra ingratidão...
Mas meus vazios de alma
Clamam por ti, último refúgio
Quando vago sem rumo, sem abrigo...
E do berço amoroso, onde eu dormia após rezar
Resta apenas uma lembrança vaga de uma mão que afaga,
Que aperta a minha até que eu adormeça,
E que também rezando, pede que quando eu cresça
Não me deixe tomar pela tristeza do sonho que se esvai...
E hoje o homem que outrora foi menino
Quando vaga sem rumo e sem destino
Lembra do sono, do berço, e da mão amiga de seu pai...
* * *