NOS MESES DE MARÇO
 
As lembranças me golpeiam
E o coração refugia-se no passado
Fico a visitar lugares, vislumbrar rostos
Perdido em recônditas avênidas
Até meu pensamento arremeter-me
Aquela vida nos meses de março...
Quando o alimento nos era escaço
 
Corríamos todo o barranco da orla
Até que distante avistava-se uma canoa
E nas marolas produzidas pelas remadas
Banzerava também a esperança...
De fartura ao menos por um dia
 Na casa de João, Iraci, Pedro ou Afonso
 
Canoa encostou...
Algumas cambadas trazidas do Taciua
O povão logo cercava o cansado pescador
Que passara a madrugada faxiando
E o garotinho franzino ainda conseguiu?
Sim! Ele comprou algumas unidades
Dinheirinho contado e enrolado na mão...
                          
                          
 Ao chegar em sua humilde morada
Onde a mesa é o assoalho e o banco
Ah, o banco é um cepo de talho duro
A mãe sorrir ao ver o filho com o alimento
 
Apressa-se para tratar os peixes
Colhe temperos de sua própria horta
E faz uma peixada de caldo branco
Um pires quebrado, prato de esmalte
Farinha, sal, pimenta e limão
Que abençoada e deliciosa refeição!
 
Alimenta o corpo, a alma e o espírito
Pois a fé torna-se mais forte
Quando você sorrir e zomba da fome
Por que Deus mudou a sua sorte!