O QUE É SER POETA

Quem é poeta assim nasceu

Foi crescendo e se encontrou

Aos poucos se reconheceu

Encantou-se e se desencantou

Com o mundo se rebelou

Às vezes não sabe que tem este fardo

E ignorando que é um bardo

A si mesmo desconhece

Ou não sabe ou esquece

Que é filho da Deusa Musa.

Muitas vezes dela abusa

Sem saber que ela é Deusa.

E que todo deus castiga

Não perdoa e exige submissão

E às vezes concede remissão

A custa de sangue e cruz

Só que uma deusa seduz

Talvez porque é fêmea

E alma gêmea do poeta.

Todo aquele que é poeta

Não é poeta a todo tempo

E quando não é poeta esquece

E adormece num sono profundo

E sonha com outro mundo

Mais velho que um mundo novo

Lá aonde vive um povo

Dançando ao som duma prece.

Todo aquele que é poeta

Às vezes toma um porre

Foge de si mesmo e corre

Sem saber pra onde vai

Estrada errante percorre

E chega na encruzilhada

Diante de quatro estradas

Pra ir em frente ou voltar.

Três caminhos pra fugir

E um só pra regressar

Ser poeta é ir e não vir

Talvez ir pra não voltar

Ser poeta é não saber o que se faz

Quando sente o que sente

No seu coração de luto

A saudade de quem se foi

A mamãe ou o papai

E a raiva de quem ficou e não vai.

Ser poeta é ficar puto

Quando se está lúcido

Daí sua eterna alegria.

Ser poeta é saber e ignorar

Porque saber de tudo é sofrer

O poeta sabe sem querer saber

O poeta é e não quer ser.

E é por isso que o poeta

É uma pessoa indiscreta

Que se alegra e se entristece

E isso não é pouco

O poeta é o único que não enlouquece

Porque já nasceu louco.

Benedito Generoso da Costa
Enviado por Benedito Generoso da Costa em 24/08/2013
Reeditado em 24/08/2013
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