Ao Natural
Usar calcinhas folgadas no fim do dia,
Mesmo que desajustada no bumbum,
Dançar em frente ao espelho,
Sem que riam de mim.
Por preguiça fazer jejum,
Pintar os lábios de carmim,
Passar jumbo no olhar,
Cantar bem alto ao chuveiro,
Desafinado mesmo,
Só para encomodar.
Dormir exausta e de cabelos molhados,
Ter sonhos iguais,
E por todas as noites.
Correr riscos,
Ter medo de bichos,
Não de bípedes, nem sempre domesticáveis.
Criar minhas regras,
Aprender a guiar,
Segurar firmes nas rédeas,
Pois os principes só mandam carruagens.
Tropeçar num salto, tão alto,
Bem maior que meu orgulho.
Faxinar pela metade,
Juntar todo entulho.
Emprestar minha voz á bonecas,
Jogar bolas distantes,
Perder petecas, fazer barulho.
Ser criança, acordar cedo e sem sono.
Por vezes na madrugada cobrir meus brinquedos.
Cuidar das finanças.
Roubar flores e poder levá-las
Não sustento mágoas,
Não tive infância.
E os segredos que tenho,
São apenas os que me confiaram,
Pra guardar.