EM VIDRAÇAS E POTES

 

Um dia é para ser bem engarrafado

Em vidraças de janela e potes de geleia

Quando a tarde se aproxima lenta e voraz

Saboreando-se com metas não realizadas.

 

O vazio fica no ar onde oxigênio não existe

Um rosto perdido na imensidão do apartamento

Vaga entre a poeira de uma cidade que se descama

Estrangulando seus homens e mulheres

Tragando seus sonhos adubados com fuligem.

 

Eu venho de um mundo onde a natureza pulsa

Como um coração feliz em seu esplendor máximo

Mas agora piso sobre tábua de minerais aquecidos

Fritando esperanças em passos apressados.

 

Venho de enredos em que dramas não sufocam

E abraços, ainda que não dados, são mais sinceros

Olhares atentos vigiam a vida em seus rasgos

Aptos para costurar com seus fios cautelosos

A simplicidade de andar descalço por atalhos serenos.

 

Eu não me acostumo com as programações urbanas

Ventiladas em redemoinhos sobre o asfalto pálido

Em cada momento que sou produtor, produto e consumidor

Rabisco em minha agenda o próximo passo sem direção.

Cláudio Antonio Mendes
Enviado por Cláudio Antonio Mendes em 08/12/2021
Código do texto: T7402924
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