Alguma coisa
No limiar de uma noite chuvosa paro para pensar sobre a riqueza de um homem!
Seria a sua capacidade insaciável de ser incompleto?
Nessa nuance ontológica
consigo me visualizar como um ser em devir, em eterna incompletude!
As palavras não são capazes de definir
quem sou e nem como sou
— tenho dificuldades em aceitar o confinamento das mesmas.
É complicado ser apenas um sujeito
que anda pelas ruas e avenidas
com destino, ou sem destino
que olha o relógio que marca a hora sem sentido
ou que compra o livro na livraria da esquina
sempre às 18 h, numa espécie de ritual apócrifo
e procura a lapiseira para escrever palavras inócuas
que vê o tempo passar, passar, simplesmente passar.
Mas eu continuo desbravando o suave som da chuva nas teias e no chão
e necessitando dos outros.
Que proeza seria
renovar o homem
usando a sua finitude!