Marinheiro

Passei por aqui

Como já não podes ver

O que estou vendo

Vejo por ti.

Por ti eu vi os barcos de nomes líricos,

Os velhos navios da Costeira e do Lloyd,

Os vapores da Companhia Comércio.

Por ti eu vi os marinheiros espalhados

Nos botequins da Saúde, contando casos,

Pródigos no oferecimento de bebidas.

Por ti eu vi, numa noite fria e úmida,

Os lampejos do farol da ilha Rasa.

Por ti eu senti o cheiro da maresia

Num crepúsculo à beira mar.

Por ti eu senti o cheiro da maresia

Num crepúsculo à beira-mar.

Por ti eu imaginei rumos audaciosos,

Travessias de oceanos, surpresa

E encantamento de novas paisagens.

Por ti eu me investi na função de comando,

Traçando roteiros, consultando mapas,

Empunhando binóculos,

Vendo o clarão das cidades do litoral.

Por ti entoei velhas canções de nautas

Saudosos de terras distantes.

Em homenagem a tua memória

Consegui conter as lágrimas

E reprimir a revolta causada por tua morte.

Hoje te quero e te compreendo

Muito mais do que nas horas

Em que tua presença física

Vinha atenuar as saudades de meses

E meses de ausência nas tuas prolongadas

Viagens em navios que ainda hoje

Parecem te esperar.

Irmão marinheiro,

Os barcos ainda te reclamam através

De seus apitos pungentes.

O ranger das trancas nos iates a vela

É o lamento de quem ainda não se acostumou

Com a tua súbita partida para o nunca mais.

E há marinheiros de fisionomias espantadas,

Eles que relutam em acreditar

Que não ouvirão mais tua voz de comando,

Teu jeito brando e determinado

De dirigir e ordenar, tu, que a bem dizer,

Morreste no leme do teu barco.

Izan Lucena Lucena
Enviado por Izan Lucena Lucena em 08/09/2014
Código do texto: T4954086
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