O porto e seus navios
a cidade e seus prédios altos.
as montanhas e sua neve.
os sonhos e seus monstros.
os monstros e seus sonhos.
o vento e as palavras que ele carrega.
o céu e os desenhos que imitam os homens.
as ruas e seus mendigos.
o porto e os seus navios.
os meninos e seus pássaros empalhados.
os homens e suas conquistas.
bicicletas e todas as estradas acolhidas.
as fotos e todo o passado.
os trigais e toda a liberdade.
o pescador e todos os pensamentos.
as mulheres e todos os remendos que fazem nas vidas.
padres e todas as cores para salvar pecados.
os bilhetes e todos os mundos criados.
a dança e todos os rodopios.
as portas e as conjecturas.
os cortes e todas as possibilidades de cura.
todas as faces carregadas no olhar.
todas as mulheres que cantam com voz forte.
os velhos e todas as tradições.
as badaladas de todos os sinos ao meio dia.
os hoteis e todos os pedaços de vida colados.
as melodias que abraçam o fim de todas as tardes
a ousadia de nascer de todas as manhãs de segunda-feira.
todo o fogo que queima sobre o mar de sangue.
todo o chão e os tapetes de veludo vermelho.
toda as taças de vinho da redenção.
todos os pássaros e o bater de asas antes da queda livre.
todos os pregos cravados na parede de tábuas velhas.
todas as despedidas e inconstâncias de um adeus.
memórias todas de um quadro na parede.
beijos todos de um dia em preto e branco.
o todo, e o nada.
as moças e seus cabelos vermelhos.
os moços tão longe de seus cabelos vermelhos.