Meu canto na infância

20 anos se passaram, e ainda hoje, vive como quem se recusa a ir embora. Claras como as cores, estão na memória como se jamais devesse deixá-las...

Lá no alto, era tudo para mim. Pouco desbravada pela intensa natureza que acercava, era onde eu costumava ver o pôr do Sol nas . Lá, era eu e apenas meu instinto curioso e atraído pelo medo e o desconhecido.

Lá do alto, nada nesta vida me fora mais glorioso; ninhos e ovos brotam entre as fendas do penhasco rochoso, revoadas de pássaros coloridos alçando vôos como se eu pudesse tocá-las. A vista ao longe, traz consigo uma natureza intensamente rica e cheia de vida ao redor. Vales e montanhas se perdem na vasta imensidão de um intenso verde com infinitas cores de um só tom. Lugar este, que somente eu ousara desbravar como ninguém.

Lá do alto, sobre as montanhas, eu rolava pedras da minha infância despreocupada, de uma vida sem tragédias, sem rancor, sem pressa e sem obrigações. Estávamos a sois, eu e apenas o meu instinto de criança desobrigada de um futuro apressado e sem platéia dos quais me acercam nos dias de hoje.

Ainda sois de ver o inverno congelar os lagos formando uma fina camada de gelo esbranquiçada num brilho que reluzia sob o espelho-d'água. Vi também, o verão rigoroso secar rios e cachoeiras. Mas, temor não havia por tal depreciação, pois era apenas o capricho da natureza que compunha sabiamente cada ciclo entre as estações, e logo, tudo voltara a ser como antes.

Enquanto isso, lá do alto, eu continuava observando a natureza sob diferentes aspectos da vida. Ainda que, sem certas perguntas sob as quais jamais obterei respostas, mas, continuava ali, parado, indagando a vida e olhando o por do sol caindo diante dos meus olhos enquanto a brisa calma e suave ia aquietando-se e pousava lentamente à minha volta.

Hoje, percebo que a vida mudou-se apenas de um cenário para o outro, mas nada mudou. Contudo, aquela criança que via tudo lá do alto, ainda vive com as mesmas inquietações , medos e dúvidas. Tendo em si, a maior e mais valiosa de todas as descobertas, e percebi, que aquela criança vive como nunca dentro de mim. Uma criança, que se recusa a entregar-se ao tempo e a velhice.

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Sábio pelas transgressões que ligam "passado e futuro", hoje, procuro aditivar um sentido para que a vida não seja breve e desperdiçada num culto de lamentações. Ciente de que, a minha criança, viverá eternamente comigo e a manterei farta do mais rico combustível que não seja outro senão a longevidade.

Poesia Tofilliana
Enviado por Poesia Tofilliana em 18/02/2013
Reeditado em 23/09/2013
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