Canaã

Nossa Canaã

“ Estes versos foram elaborados para homenagear os filhos do distrito de Canaã no Estado do Ceará, mais precisamente no município de Trairi, também as pessoas que residem naquele distrito, e, a todas aquelas e aqueles que descendem das famílias que tempos atrás ali eram estabelecidas, mesmo que hoje habitem distantes, mas que de alguma forma alimentam o vínculo com o bonito e querido lugar.

Mas, se o caro leitor tem suas origens em outros lugares do país, qualquer que seja o município, tenha a certeza de que a historia de seus antecedentes é igualmente recheada de muita glória e toda beleza e que muito envaidece a todos os seus conterrâneos e a todos nós. Ao ler este texto, sem dúvida vai encontrar passagens que muito se assemelham às diferentes épocas do seu bonito lugar onde nasceu ou em que vive, pois a nossa pátria é uma maravilha. Pela sua leitura, o meu muito obrigado”.

“Lavagem era o nome de ontem

Canaã de agora

De outrora muita saudade

No futuro somente glória”.

Canaã de todos nós

Lá no Trairi, nas terras do Ceará

Um grande e bonito distrito

Um lugar bom de morar.

Canaã de um passado honrado

De um presente que avança

De um porvir muito aguardado

E nas novas gerações, a esperança.

Canaã, lugar de muito futuro

Do verde da esperança

De gente com muita fé

Na terra que foi prometida.

Se é uma glória nascer por lá

É gostoso por ali crescer

Onde ali se pode triunfar

E muito bom para se viver.

Canaã, onde nasce o sol da esperança

Ali o calor do dia aquece o progresso

Onde o por-do-sol nos leva a meditar

Com noites bonitas também para amar.

No litoral oeste do Estado

A 140 quilômetros da capital

Acesso em estradas de asfalto

Ali onde o útil se une ao agradável.

Limitando-se ao norte com seu co-irmão

O simpático distrito de Mundaú

Os dois cultivando atividades complementares

E a leste, com a sede do município.

Canaã de todos os tempos

Terra por Deus abençoada

Povo de brava coragem

Forte no passado e pro futuro a rumar.

Canaã uma grande invenção no Trairi

Um distrito com muitas vilas e cheio de vida

Terra de clima que nos faz agradar

E de uma verdejante mata a florar.

Canaã que avança sem ter medo de crescer

Um celeiro de muita oportunidade

Onde se planta o futuro desejado

E no presente a se colher o passado.

Terra de Canaã, que vai do mar ao sertão

Grandes sítios com baixas molhadas

Terras férteis e mais produtivas

Garantindo o feijão durante a estiada.

É lá onde é fácil amizade fazer

De gente simples e hospitaleira

Tem homem de muito valor

E mulher de toda coragem.

E tem naquele grandioso torrão

Uma das praias bonitas do Ceará

Emboaca é o nome do litoral acolá

E ali se juntam sol, sal, praia e mar.

Admirável povo de Canaã

Gente de todo amor à terra

Que muito trabalha de sol a sol

E que come o pão do próprio suor.

Canaã amável, berço da singeleza

Ninguém acumulou grandes riquezas

Mas, fome, nunca com certeza

Um sinal de fartura e grandeza.

Limpa energia eólica pra gerar

Que muito emprego também vai chegar

Será mais dinheiro que vai circular

E o progresso logo vai se instalar.

É a eólica que gera a energia limpa pra vender

No sítio também podemos fácil gerar

Com o catavento que se usava pra água puxar

Boa água sobrará e luz barata não faltará.

Antes chamavam de cataventos

Agora se chama de aerogerador

Até Eólica, seja o tamanho que for,

Água e energia tudo se pode gerar.

Também estamos a desperdiçar

A nossa farta energia solar

Que em casa ou no sítio se pode instalar

Pra produção rural baratear.

Canaã, terra do coqueiral

Onde a graúna em bando a pousar

Canta na palha a balançar

A saudar nas tardes as pessoas do lugar.

De altos morros brancos,

Cercada por todos os lados

De lagoas de águas claras

Onde faz bem mergulhar.

Minha amada Canaã

Terra de brisa fria a soprar

De veredas de areias alvas a brilhar

Com boas praias e a maré a beijar.

Canaã dos canaãenses

Terra de muitos córregos

Do verde de muita fartura

E de mulher bonita pra casar.

Canaã, terra de água farta

De natureza fecunda

De agricultura produtiva

Ali se plantando tudo dá.

Canaã, terra da cana de açúcar

Que faz a rapadura mais doce do Ceará

Que muito emprega nos engenhos

Nas plantações e nas canas pra cortar.

Canaã, terra da farinha de mandioca

Farinha com muito fubá

Pra pirão escaldado fazer

E o que exceder na feira vender.

Canaã, terra da banana casca verde

Que muito se planta nas várzeas

Pra se fazer um bom doce

E se alimentar pra trabalhar.

Um bom lugar pra passear

Calor humano pra aproximar

De sol a sol sempre a produzir

E às noites pra repousar.

Canaã, onde posso meu burro amarrar

Tem boas praias pra se banhar

Algumas noites pra forrozar

E na Matriz vamos rezar.

Canaã, que no ciclo da borracha

Cultivou-se a fruta mangaba

Que se juntava a seiva em bolas

Pra borracha lá no sul transformar.

Querida Canaã, outrora Lavagem

Então povoado, a seguir uma vila do Trairi

Talvez de conta nem se dá

O melhor lugar pra morar.

Lugar onde então, assim se comentam

Se levavam os animais para lavar

Eram bestas e mulas a cavalgar

Todos iam para ali se banhar.

Lá no pé daquele morro ao lado

Às tardes após o trabalhar

O córrego ficava lotado

De animais suados pra se banhar.

Não era um grande rio

Mas tinha água limpa por lá

Dava pra se beber

E tudo poder lavar.

Daí passaram a chamar

Lavagem aquele lugar

E digo sem medo de errar

Já era bonito e bom de morar.

Desde aquela época de então

Que nem lugarejo era

E assim ficou muito tempo

Lavagem seu nome a se chamar.

Como era o lugar de se lavar

Por Lavagem se batizou o lugar

Por ter fartura d’água

Começaram também a morar.

Os moradores começaram a chegar

Casinhas aqui e acolá

Com o tempo virou uma vila

Quão belo ficou aquele lugar.

Casas a se levantar

Uma rua larga pra ventilar

No centro deixaram um campo

E uma capela fizeram elevar.

Do campo fizeram uma praça

Com muita areia branca por lá

Por ali árvores a se plantar

Com sombra pros cavalos amarrar.

Se o campo virou uma praça

Hoje tem um grande calçadão

Todo mundo a passear

Desde que Lavagem, ainda se chamava o lugar.

Um gerador então veio pras noites iluminar

E antes do sinal das luzes apagar

No patamar da igreja

Jovens sempre a passear.

Eram as moças bonitas do lugar

Que iam e voltavam

E rapazes a olhar

Que voltavam depois que iam.

Uns achavam Lavagem um nome bonito

E a outros a desagradar

A Lavagem virou rua

E vou à rua ainda se diz quando se vai pra lá.

Agora já não era só o córrego

Já tinha muita gente por acolá

O desenvolvimento sempre a chegar

E famílias se mudando pra lá.

A região era muito próspera

A terra tinha boa fertilidade

A água corria à vontade

O que se plantava virava produtividade.

A população veio de todo lugar

Dali e de acolá a povoar

Do Trairi e de toda região

Da praia e do sertão.

Gente sabida e de coragem

Os que fugiam da seca

Famílias lá do velho mundo

Também vieram ocupar.

A agricultura era um progresso

Criação a se multiplicar

Animal bom pra se cavalgar

E gente sempre a chegar.

Todos vinham para ficar

Trabalho pra ninguém faltava

Casas de farinha por lá

E engenho com boi a puxar.

A Igreja é de São José

O Padroeiro de quem vem morar

Sempre atraiu muita gente

Vinda de todo lugar.

As famílias se entrelaçavam

Bons casamentos haviam por lá

Moças bem prometidas

Rapazes pra conquistar.

Mas ninguém podia impedir

E nem desrespeitar

O amor entre dois corações

Que vinham se apaixonar.

A lavoura ia muito bem

No roçado a se plantar

O milho, o feijão e a batata doce

A cana caiana e de açúcar a cultivar.

Jerimum e melancia a semear

A farinha já tinha boa fama

A rapadura era o doce do lugar

E coco pra se vender e comprar.

Fartura pra todo lugar

Banana madura, manga e caju

Mel de abelha arapuá

E dinheiro para se enterrar.

Carneiro, bezerro e bode

Vaca leiteira e de corte

Galinha, pato e peru

Capote que está fraco a reclamar.

Capão amarrado a comer

Carneiro enjeitado a berrar

Jumento pra carga levar

E cachorro pra latir e caçar.

Galo pra na alvorada cantar

Porcos no chiqueiro a engordar

Boi de trabalho e de corte

Cavalo alazão pra se montar.

Galinha pra ovos botar

E choca pra pinto criar

Frango pra canja fazer

Pra mulher parida jantar.

Paiol pra safra juntar

Cofre para dinheiro guardar

Assim iam todas as coisas

Na nossa Lavagem de lá.

Jangadeiro também ali não faltava

O peixe era a fartura do lugar

No mercado o seu cheiro estava no ar

Ainda que carne fosse fácil comprar.

Carambola pra água puxar

Carro de boi pra lenha levar

Esterco pra mais produzir

E Dona de Casa pra menino criar.

No curral da vacaria

Logo cedo da manhã

Vacas pra se ordenhar

Pra leite mugido juntar.

Leite pra criança tomar

Pra queijo coalho prensar

Para os vizinhos comprar

E algum dinheiro juntar.

Leite para coalhada fazer

Para as noites sempre cear

Nas noites melhor dormir

E acordar bem pra trabalhar.

Profissões já tinham por lá

Ponteiro para o mel não queimar

Pedreiro para casa elevar

E carpinteiro pra porta pregar.

Ferreiro pra enxada fazer

Vaqueiro pro gado levar

Leiteiro pra leite vender

E Padre pra Santa Missa rezar.

Músico pra festa tocar

Repentista pra cantiga dizer

Comboieiro pros produtos levar

E comerciante pra fiado vender.

Padeiro pro pão amassar

Professor para o verbo ensinar

Agricultor para tudo plantar

E pescador pra peixe pescar.

Rezadeira pra doença curar

Rendeira para blusa enfeitar

Costureira pra roupa fazer

E parteira pra menino pegar.

Verdureiro para cheiro verde vender

Cozinheira pra melhor temperar

Enfermeiro pra curativo fazer

E Polícia pela ordem zelar.

Hoje Canaã muito se orgulha

De todos os seus filhos gerados

Profissionais em todas as áreas

Homens e mulheres, alguns formados.

Atividades com iguais importâncias

Sacerdotes, engenheiros e funcionários

Agropecuaristas, odontólogos, e militares

Agrônomos, políticos e veterinários.

Professores, médicos e administradores

Empresários, motoristas e bons advogados

Juntos na construção do amanhã

Uns muito ativos e outros bem aposentados.

Terras por ali já cercavam

Casas boas se edificavam

Logo de tudo plantavam

E o gado no cercado a pastar.

Milho para canjica comer

Leite pra cozinhar e vender

Cana de açúcar sempre a moer

Pro café forte no caco adoçar.

Mangaba pro visgo tirar

Mandioca para farinha fazer

Goma para tapioca comer

E coco pra melhor temperar.

Muita várzea para plantar

Água para se regar

Sementes na cova a plantar

Espantalho pro pássaro enxotar.

Enxada para capinar e cavar

Terra pra se cultivar

Legume pra se colher e vender

Para fome nunca passar.

Areia fina de cor branca

À noite, claro era o luar

O vento muito a soprar

E a esperança sempre a chegar.

Ali todos fortes cresciam

De tudo a produzir e brotar

Trabalhava-se de sol-a-sol

Pras noites no sono pegar.

Dia santo a se respeitar

Nos outros dias pra se lavrar

Aos sábados era pra se ouvir

O bom repentista a cantar.

Gente nova e mais idosa

Iam todos apreciar

O cantador que de tudo dizia

Só não cantava as moças de lá.

Cancioneiro tinha muito por lá

Lua cheia convida a prosar

Seresteiros com modinhas a cantar

Pras moças solteiras alegrar.

Os domingos eram festivos

De manhã a devoção

Depois da Santa Missa

Seus pecados confessar.

À noite era só festa

Pra gente aproveitar e dançar

Cachaça pra se tomar

Talvez até para pecar.

Sereno frio da madrugada

Lua cheia da cor de prata

Coração de moça sempre a palpitar

Do violão de longe o tom a se escutar.

Cavalo selado e chapéu na cabeça quebrado

Noite clara a despertar corações

Luar para violeiro serestar

Pra quem ele quer namorar.

A madrugada clara era bonita por lá

Moças recatadas e jovens pra conquistar

Rapazes apaixonados querendo se enamorar

Cantavam o amor nas serenatas ao luar.

Mas as serestas ficaram pra trás

Canaã agora só ouve música eletrônica

A paixão hoje é coisa passageira

E o amor é uma fantasia muito ligeira.

Mas essas coisas vêm com o tal progresso

De um desenvolvimento desordenado

Mesmo assim muitos pensam no crescimento

Na evolução do povo e da nossa terra.

Lá tem moça bonita pra se namorar

Cadeiras pra se esquentar

Pai valente pra vigiar

Capela pra nela casar.

A natureza que muito pode ajudar

Tem mata pra bicho viver

Sombra pra se descansar

E vento pra nos refrescar.

A Lavagem muito cresceu

A população muito aumentou

A fartura se engrandeceu

E a educação se fortaleceu.

Já não era mais uma vila

Lavagem virou Canaã

Canaã passou a distrito

Como distrito pede passagem.

Canaã de terras arenosas

Um oásis de fertilidade

De córregos perenes a correr

Resultado da vazão do nosso mar.

Canaã de brisa a soprar

Trazendo muita umidade

Com várzeas de terras frescas

E capoeira pra roça plantar.

A farinhada é uma grande cultura

A rapadura o melhor doce que há

Mas tem um lado que se deve tocar

Esqueceram do crescimento de lá.

Como não existe bom sem defeito

O outro lado se deve mostrar

Ontem, do presente se esqueceram

Do futuro não quiseram lembrar.

E quando o futuro chegar?

Sem estrada e pouca estrutura

Falta escola e na saúde muita carência

E sem vaga pra gente empregar.

Agricultura desamparada

Pecuária inexistente

Urbanização é quase nada

Produção agora desacelerada.

A cultura e a tradição

Ajudam no crescimento

Mas esquecem delas cultivar

E o turismo a se desviar.

Sabemos que crescer não é desenvolver

E mesmo que a natureza seja generosa

É sempre necessário sempre cultivar

Senão logo muita coisa faltará.

Em Canaã todos sabem muito plantar

Mas é bom saber que vegetal vai cultivar

O melhor é plantar poucas espécies

Pois assim a indústria pode logo chegar.

Não basta comprar pra vender

Cada um tem que muito produzir

Para em Canaã poder industrializar

Aquilo que na boa terra cultivar.

Se crescer sem desenvolver

É como nascer e sem qualidade viver

Torna-se de tudo sempre dependente

É uma existência muito descontente.

Lá hoje já não se cultiva como então

Muito se consome o que vem de longe

Outros produtores muito agradecem

Pois produzem para na Canaã vender.

O bananal hoje não tem o mesmo tamanho

Nosso canavial já não ocupa quase espaço

A mandioca agora se cultiva menos

E o coqueiro há muito não tem produção.

Pecuária é quase nada

Muita gente aposentada

Geração mais jovem despreparada

E patrão é coisa de então.

Casa de farinha e engenho de cana

A maioria já não mais funciona

O arroz há muito tempo vem de longe

E os idosos sustentam os jovens sem trabalhar.

Muitas terras agora estão cansadas

Agricultura atrasada e o solo queimado

Terras baixas já desfertilizadas

E muitas pela erosão soterradas.

Falta acesso à nova tecnologia

Sobram práticas ultrapassadas

Assim é oportuno repensar o espaço

Antes que Canaã volte à Lavagem de então.

Pra evoluir é necessário mais educar

Sem instrução não gera produção

Temos que produzir para mais empregar

E pouca educação nada vai acrescentar.

Ainda falta empenho na educação

Enquanto sobra desinteresse pela saúde

Faltando educação não faz crescer

E a doença só faz a vida encolher.

Alguém tem que o processo liderar

Já não se pode mais esperar

Todos podem e devem colaborar

Canaã não pode no tempo parar.

Se pensar em emancipar

Antes comecem a edificar

A construir outros caminhos

Para o progresso poder entrar.

Os vegetais da nossa boa terra

Tem remédios pra gente curar

Papoula pra coração apertado

Leite de Janaguba se inflamado ficar.

Pega-pinto pro sangue afinar

Courama pra gripe curar

Malva com mel pra tomar

E muita saúde pra trabalhar.

Pras crendices não se esquecer

A cachorrinha a nos acompanhar

O assobieiro no ouvido a zoar

E o batatão no morro a queimar.

Agora vou confessar

O que eu já devia ter dito antes

Eu conheço nossa Canaã

Quando Lavagem ainda era o nome de lá.

Eu não nasci ali, pois não podia escolher

Mas todo meu sangue é de lá

Logo eu me considero

Filho do nosso bom lugar.

Minha mãe, avô e bisavô

Na lavagem nasceram todos

Viveram e cresceram acolá

E o meu sangue tem a quem puxar.

Dos meus queridos antepassados

Muitos já se foram pro alto

Mas o sobrenome da família

Ainda existe nos parentes acolá.

Portanto não posso negar

E ninguém pode contestar

Que sou filho do lugar

Pois tenho muito pra provar.

Minha avó do Córrego dos Furtados

Muitos ainda moram acolá

Mulher ali, de bonita tem fama

É o que não falta por lá.

Meu avô Aristides Ferreira da Cunha

Homem de muita arte

Na construção da Igreja trabalhou

E a torre ele levantou.

Se é Ferreira ou se é Cunha

Tem que ser filho da Lavagem

A terra tem muitos filhos

Mesmo sem ter nascidos acolá.

Mas a Lavagem desenvolveu

E no mapa do Estado

Seu nome apareceu

É sinal que tudo viveu.

O lugar muito cresceu

Ao Trairi se aproximou

Gente que ia e que vinha

E tudo se integrou.

Fizeram uma estrada vicinal

Cobriram com casca de coco

Bagaço de cana de engenho

Tudo pra não atolar.

Carroça ia muito bem

Mas carro a se empurrar

Na rua era um vai-e-vem

E o progresso a avançar.

Depois chegou um carrão

Era o caminhão misto do lugar

Fartura pra todo lado

E o carro a subir e chegar.

Na saída era choro e adeus

Na chegada do carro só alegria

As novidades que traziam

Passavam logo a contar.

A boléia era pequena

Pra tantos passageiros embarcar

Por isso muitos subiam

Sobre a carga pra viajar.

As estradas não eram boas

O carro alguma vez a quebrar

O motorista era mecânico

Sempre tinha o que reparar.

Viajavam passageiros

Fartura a embarcar

O lugar ao entardecer se alegrava

Na chegada a ouvir o buzinar.

Numa dessas viagens

Logo voltou à Terra

O Padre Rodolfo Ferreira da Cunha

Que era filho do lugar.

Ele veio para abençoar

O povo do bom lugar

E o pastor logo se pôs

Com a freguesia rezar.

Mas Canaã muito cresceu

Tudo amadureceu

Também se fortaleceu

Mas ainda não se emancipou.

A vontade era de todos

Que "Sim" iam no plebiscito votar

Seria o reconhecimento

À luta que o Padre Rodolfo fez começar.

Como os políticos não ajudaram

Tudo ficou como então

Canaã não se emancipou

E como distrito continuou.

Mas isto deixou uma lição

O Distrito precisa se espalhar

Trabalhar é a solução

Depois saber em quem votar.

Mas Canaã continua bonita

A esperança a renovar

Coragem vai sempre sobrar

Nos homens e mulheres daquele lugar.

Tudo de bom existe por lá

Ninguém passa fome acolá

Quem madruga Deus ajuda

Mas de sol a sol a trabalhar.

É ali que tem coqueiro

E o vento a folha a balançar

Logo que chega a tardinha

O cupido vem na palha cantar.

Cavala peixe do mar

Havia muito por lá

Cangulo, xaréu e camurupim

Pescavam até pra doar.

Lagosta não tinha gosto

E a cabeça a se aproveitar

O corpo pra se vender

E o dinheiro pra se juntar.

Na festa do padroeiro

Tem grande animação

Vem gente de todo canto

Da praia, da Caatinga e do sertão.

Vem lá da capoeira

Do Trairi e da cidade

Vão todos agradecer e festejar

A chuva que vai chegar.

Vem de ônibus e vem de carro

Vem a pé e vem na moto

Vem em cavalo montado

E carroça tem pra todo lado.

E sempre há o que agradecer

Ou mesmo a suplicar

Se chover vai molhar

E no roçado tudo a plantar.

A praça é toda ocupada

Roupa pra se engraçar

Bolo pra se comer

E cerveja pra se tomar.

A festa é religiosa

Mas não falta o que comprar

É fartura pra todo lado

E gente bonita a desfilar.

Tem muita mulher faceira

À noite é gente que vai e que vem

Todos sempre a passear

Só não falta o que conversar.

Tem caboclo que toma cachaça

Outros bebem aluá

Tem prenda pra se arrematar

Para a igreja muito ajudar.

O então Reverendo filho do lugar

A chamar Lavagem de Terra Santa

E a Lavagem foi rebatizada

E de Canaã assim foi chamada.

No começo não se sabia

Se Lavagem era Canaã

Ou se Canaã era da Lavagem

Mas o nome veio pra ficar.

O certo é que o nome foi aprovado

E o Padre Rodolfo homenageado

Era o filho mais querido

E no seu lugar aplaudido.

O nome veio da limpeza

Quando então se fazia a lavagem

Depois da terra prometida

Não há como o lugar se sujar.

Neste distrito se vive contente

Criança e adulto a estudar

Muitos vão trabalhar

E vários a se formar.

Só pra relembrar

E também para recomendar

Ontem Lavagem era um lugar

Hoje o melhor distrito que há.

Que seus novos filhos

Nascidos neste distrito

Que de Canaã saibam cuidar

Senão até a Lavagem volta pra reclamar.

Muitos anos atrás - 1874

Pro Trairi foi mandado

Outrora um jovem Padre capaz

Pro povo abençoado cuidar.

De nome hoje afamado

Cícero Romão Batista

Carinhosamente chamado

Meu Padim Padre Cícero.

Cícero como era chamado

Nascido lá pelo Crato

No sertão do Cariri

No Sul do nosso Estado.

Na paróquia do Trairi veio ajustar

Casamentos mal arrumados

Que fizeram por lá

Por uma pessoa de padre a se fardar.

Sua passagem por ali foi rápida

Mas na Lavagem também esteve

Por ali Missa a rezar

E o povo a abençoar.

Na Lavagem tinha um casal

Religioso sem igual por lá

Ele, o Tenente José Ferreira Cunha

Ela, Dona Maria Bezerra de Menezes.

O Tenente atendia pelo nome de Iôiô

Dona Maria chamada por Iaiá

Assim o casal vivia com Deus

Jesus, Maria e José a adorar.

Sempre com muita harmonia

O casal recebeu do meu Padim

Uma missão de uma capela construir

Pra Lavagem mais cristã ficar.

Tinha que ali se elevar

Uma igreja pra se rezar

Pois até então as Santas Missas

Eram na casa do Tenente Iôiô e Iaiá.

E passaram logo a pensar

Na igreja e em qual lugar

E para poder iniciar

Eles tiveram que muito ajudar.

O Tenente logo ofertou

Vacas paridas e muito dinheiro

Escravos da sua senzala

E estava só a começar.

Dona Maria, a Iaiá

Logo a percorrer toda a região

A recolher donativos

Da Lavagem ao sertão.

Com todo esforço foi construída

Mas com muita fé e dedicação

E a pequena capela de então

Virou casa de devoção.

Em 1876, a capela foi inaugurada

E em Cristo a data comemorada

E ao Santo José por Cícero foi entregue

Pra nossa maior proteção.

E com a criação da Pastoral de São José

A 15 de janeiro de 1989

Por louvor da Diocese de Itapipoca

Hoje Canaã tem sua paróquia.

Portanto, nas páginas de Canaã

Tem o toque do Padim Cícero

O que sempre nos causa

Muito orgulho e satisfação.

Inesquecível Dona Maria Bezerra de Menezes

Cuja praça da matriz lhe deram o seu grande nome

Merecida gratidão a quem muito fez pelo nosso lugar

O exemplo deve ser seguido como justiça a outros filhos de lá.

Mas justiça se faça

À Dona Maria Bezerra de Menezes, a “Iaiá”

Não existe nome melhor para aquela praça

Pois a sua grande ajuda fez a igreja se elevar.

A história social e religiosa de Canaã

É sempre escrita com muita fé

E ilustrada com nomes de grandes vigários

Entre os quais três são bem destacados.

O primeiro foi um idealizador

O segundo grande inovador

O terceiro um bom ampliador

Os demais foram bem sucedidos.

Padre Cícero teve a ideia

Muitos contribuíram com trabalho

Com verbas todos ajudaram

E a capela então ele fundou.

Padre Rodolfo veio para inovar

A terra era prometida

De Lavagem a Canaã

Foi ele quem o nome mudou.

E o atual vigário, o Padre Cleonor

No distrito trabalhou para emancipar

Com o povo o nosso lugar ampliou

E Canaã queria uma cidade virar.

Mas quem sabe

Um dia Canaã cidade chegar

Todos devem se lembrar

Do Padre Cleonor a trabalhar.

São José o nosso bom padroeiro

Foi tomado para Canaã proteger

Da igreja católica ele é o pastor

Do Ceará também o protetor.

E há muito tempo São José é

Da Lavagem a Canaã

Padroeiro do lugar

E todo mês de março a comemorar.

Por isso quando não chove em janeiro

Fevereiro a se esperar

Nas novenas de março ficam a implorar

A chuva pra nossa terra molhar.

A esperança sempre existe

E ninguém vai desistir

A nossa terra é muito fértil

E a chuva faz tudo brotar.

Por isto ninguém esquece

De ir às novenas rezar

Em sinal de devoção

E também de adoração.

Ali se pode ao protetor implorar

Tudo o que desejar

E também muito agradecer

Com fé, a graça que se alcançar.

Dos bons tempos da Lavagem

Não me lembro de tudo

Mas também pouco esqueci

Agora fico a recordar.

Boas são as lembranças que tenho

De muitos pássaros por lá

Todos sempre a cantar

Na aurora a nos acordar.

Das doces mangabas da Lavagem

Do visgo em bola para vender

Da abundância do coco seco

Do caju e da banana com fartura.

Do cheiro da castanha no paiol

Do aroma da farinha no baú

Da cana de açúcar na moagem

E do doce de coco com rapadura.

Das casas de farinhas muito me lembro

Do grude sobre o forno a esquentar

Da farinha dentro do forno a torrar

E das conversas entre as pessoas a trabalhar.

Da simplicidade das casas de farinha

E das suas chaminés com fogo a cuspir

Do barulho dos motores dos engenhos

E fico a lembrar do mel no tacho a ferver.

Da raspa quente a comer na quenga

E do caldo escuro a correr pro tacho

Das mulheres ralando o coco

E do calor da fornalha a nos aquecer.

Do cheiro azedo da tiborna

Dos animais carregados em comboio

Do barulho dos engenhos de então

E da hospitalidade do dono da cana.

Dos dias com muita chuva

Das crianças nas bicas a se banhares

Dos fortes trovões com relâmpagos

E o espelho a se proteger dos raios.

Das lagoas caudalosas

Com os animais a lavar

Com peixe pra pescar

E muita água para se banhar.

Das madrugadas frias

Dos fogões a lenha a se soprar

Do café quentinho das cinco horas

Tomando com tapioca de goma fresca.

Do peixe assado na brasa

Sobre o fogo quente da trempe

Comido com beiju no leite de coco

Onde todos à noite se enfartavam.

Também ainda não esqueci

Das estradas de areia branca

E dos bagaços de cana na trilha

Pros carros e carroças não atolar.

Dos calões de peixe ao entardecer

E pouca gente pra comprar

Depois o peixe salgar

Pois não tinha gelo farto por lá.

Das badaladas do sino da igreja

Chamando para rezar

Das filas pra confessar

Pro seus pecados contar.

Das noites de Santa Luzia

Das cebolinhas no sereno

E das rezas pra São José

Pra chuvas logo chegar.

Dos vestidos de chita das mués

Nas festas a se mostrar

Do suor das dançadeiras

Quando do braço a levantar.

Ainda sinto até o gosto

Até me vem o forte cheiro

De cangulo assado na brasa

Com grolado a comer no caco.

Das rezadeiras dedicadas

Pra quebranto e espinhela caída curar

Assim todos se curavam por lá

Era o bom remédio daquele lugar.

Das cachimbeiras de então

Bralhando nas garupas dos cavalos

Nas estreitas veredas escuras

Pra menino longe pegar.

Das lamparinas a querosene

Pra noite melhor clarear

Colocadas nas janelas

Pras moças mais namorar.

Das cervejas quentes

Que eram vendidas por lá

Pros cabras se embriagar

Quando a cachaça faltar.

Dos forrós pé de serra

Que tinham naquele lugar

Da inhaca do suor dos casais a forrozar

E da poeira do chão batido a levantar.

Ainda muito me vem ao paladar

Tudo aquilo que comi por lá

Comidas simples, mas nutritivas

Inesquecíveis, fartas e deliciosas.

Das apetitosas comidas de então

Temperadas que todas eram

Com o saboroso azeite de coco

Além de sadio, muito gostoso.

Da buzina do carro misto

À tardinha sempre a chegar

Com muita gente a esperar

E mercadoria a descarregar.

Sem esquecer do Raimundo capataz do misto

Cuidadoso, era sempre o primeiro a descer

E sem dúvida, o último a embarcar

Estava sempre da nossa carga a cuidar.

Do motor de energia

Quando a Coelce não tinha lá

Às nove da noite a parar

E a treva a continuar.

Das cabaças cheias d’água

Pra sede no roçado matar

Depois de uma rapadura

E a fome com farinha saciar.

Do latido dos cachorros

Em toda madrugada a fora

No terreiro da frente das casas

Acuando forasteiro a passar.

Das histórias de Camões

Que meu avó tinha pra contar

Nem sei se ele sabia

Que Camões não era Bocage.

Da beleza dos morros brancos

Nas noites mais iluminadas

A lua na areia a refletir

E vultos vivos a desfilar.

À noite a lua cheia a pratear

Sugerindo modinha cantar

E seresta pra moça bonita acordar

Sem saber se o pai iria gostar.

Da tradição de reunir os netinhos

Logo à boquinha da noite

Antes do sono das crianças

Para a vovó histórias de Trancoso contar.

Do calor das fogueiras juninas

Das quadrilhas com todos a dançar

Depois comer pé de moleque com aluá

Com forró até o sol raiar.

Das peixeiras dos marmanjos

Na camisa a se mostrar

Nas festas guardar antes de entrar

Que era um costume do lugar.

Mesmo sem culpa dever

Mas com medo a polícia faziam evitar

Da língua das mulheres todos a temer

E as noites escuras em casa se guardar.

Dos bandos de andorinhas

Às tardinhas à revoar

E nos canaviais a pousar

Anunciando o verão a chegar.

Dos cavalos estradeiros

Indo e vindo de todo lugar

De mandar cavaleiro se apear

Pra ali logo almoçar.

Dos bons ensinamentos que se dava

E o respeito que se tinha aos pais

Aos padres e aos mais velhos

Deste e de qualquer outro lugar.

Do pirão escaldado do meio dia

Do sono logo a seguir

Da vida sossegada de então

Antes do carro dominar.

Das boas águas de coco

Oferecidas sem se pagar

Depois a babugem comer

Se aguentasse podia até renovar.

Das almofadas e dos bilros

Uma tradição portuguesa que ficou

Enquanto as mulheres faziam rendas

Cantavam modinhas pro tempo passar.

Das conversas das mulheres rendeiras

No chão sobre as pernas a sentar

Tecendo renda e bico

Que se faziam pra se enfeitar.

Também estou sempre a lembrar

Das areias frouxas no verão

Dos carros até o eixo atolados

Como se o progresso corresse a 100 km de lá.

Do óleo de Batiputá saboroso

Da cambicas de murici com açúcar

Das guabirobas maduras em cachos para se tirar

Do azedo das uvaias, também de ubaias a chamar.

Também não se pode esquecer

Daquilo que era bom

Do bom que continua

Se antes era bom, hoje é ainda melhor.

Também fico sempre a recordar

O gesto das famílias amigas e caridosas

Que então aos fins de semana

Com a casa paroquial a colaborar.

Lembro da salina do Miro, onde o sal iam comprar

Hoje um grande viveiro pra camarão gigante criar

E dos currais de pescaria nas pedras dentro do mar

Ali pra peixe da costa pegar e de jegue transportar.

Dos animais com mandioca a carregar

Dos chicotes dos comboieiros a estalar

Dos trajes simples de quem ia trabalhar

E das mulheres bem vestidas para na igreja entrar.

Parece que agora mesmo estou vendo

As voltas do Rio Mundaú que no seu leito dá

Os heróis jangadeiros entrando pro mar

E alguém a subir nos coqueiros altos a balançar.

Não podemos jamais deslembrar

De um homem muito bem humorado

Que a vida viveu pelo seu melhor lado

E que eu estive na festa de seu centenário.

Oh saudoso João Ferreira Pinto

Filho da Lavagem de então

Do Trairi foi o seu quinto Prefeito

Empossado com força de intervenção.

Bela e inesquecível também era a cena lá nos brejados

Naqueles roçados os papas-arroz em bando a pousar

As bajas maduras do arrozal a comer e cantar

E o vento no espantalho a mexer pros pássaros voar.

Quem nasceu ou vive em Canaã

Só pode muito se orgulhar

Pois lugar melhor ainda não há

Pra se passear, trabalhar e morar.

Você que está lendo estas passagens

Pode muito se orgulhar

Pois está tomando conhecimento

De um pouco da história do seu lugar.

De Canaã não tem como esquecer

Dali tudo nos vem a lembrar

Se em qualquer momento não estamos lá

Motivos não faltam pra lá chegar.

Mas se de Canaã longe estamos

Logo a saudade nos leva a pensar

E não tem outra saída

Senão pra lá viajar.

Em Canaã ontem foi bom

Hoje é ótimo

Amanhã será melhor

Em Canaã é assim.

De tudo isto que aqui foi dito

Ninguém ousa em afirmar

Se hoje em Canaã é bom

Ou se Lavagem era um melhor lugar.

Só sabemos que os tempos são diferentes

Cada qual com sua realidade

E para quem muito sabe aproveitar

É viver em Canaã e da Lavagem lembrar.

Assim como Lavagem virou Canaã

Outros lugares da mesma forma cresceram

E estes simples versos muito servem

Para outras pessoas suas origens viverem.

Sinto-me orgulhoso de pertencer a Canaã

Tenho a certeza da minha contribuição

Me permita Deus um dia

Possa eu morar por lá.

“Lavagem era o nome de ontem

Canaã de agora

De outrora muita saudade

No futuro somente glória”.

Em 22 de março de 2012.