Poema para a moça do violoncelo
Chegava não sei de onde
trazendo o banquinho,
a estante e o violoncelo.
Sentava-se à sombra
da árvore grande
e iniciava seu concerto.
Eu na janela, atrás da cortina,
a espiar tão feliz e contente,
achava que a singular menina
vinha de muito longe
tocar só para mim
na praça aqui em frente.
Um dia não apareceu e
não veio mais.
Eu, que já estava acostumado,
continuo todas as tardes
a esperar que ela volte
ao seu recital.
E na janela, atrás da cortina,
ainda ouço o violoncelo
e penso que a singular menina
veio por um instante
tocar só para mim,
do jeito que vinha antes.
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N. do A. - Na ilustração, a violoncelista portuguesa Guilhermina Suggia (1885 - 1950), retratada por Augustus John (Reino Unido, 1878-1961).