Festa em Família
Era um dia feriado
No sítio do meu cunhado
Já era boca da noite
E um festejo bem começado.
Todos a se vestir
Perfumes a se botar
Maquiagem a se fazer
Penteados a se alisar.
Estavam todos felizes
Pelo sorriso a se notar
Ficava eu tudo a olhar
E o movimento a aumentar.
Já anoitecia e o vento a soprar
Os lampiões logo se acendiam
Quando chegou então
Rebeca, a beleza do lugar.
É a musa a filha do capitão
Que chegou para animar
Com ela veio a Marica
Que é uma moça muito bonita.
Marica, uma deusa em mulher
Cheia de formosura
Moça rica e muito linda
Mas o coração a lamentar.
Cheia de muitos atributos
Os homens ficaram a olhar
As mulheres todas a admirar
Era muita beleza num só lugar.
Muitos já estavam presentes
Vindos da Vila e do arraiá
Todos eram gente de família
Convidados para festejar.
Depressa todos se levantaram
Querendo logo dançar
No salão outros convidados
Querendo se balançar.
Ali para comer tinha de tudo
Leitão, capão, rosca e aluá
Galinha cabidela e arroz doce
E o forte aroma do mungunzá.
Pra tomar tinha tiquira
Vinho quente de jenipapo
Cachaça velha pra esquentar
E cerveja é o que não ia faltar.
Sem se fazer de ouvido
Depois de matar o bicho
Sem tira-gosto e sem cuspir
O trio começou a ensaiar.
Era o melhor do lugar
Outro igual não havia por lá
Zequinha, Chico e Zezé
Logo ficaram de pé.
Boa noite aos convidados
Falou o dono da casa
Hoje é meu aniversário
E pra dançar estão convidados.
Os casais a se arrumar
Rapazes com moças a se olhar
Mulher com mulher não pode dançar
Todos prontos pra começar.
A dança já vai começar
Sanfona, pandeiro e triângulo
Zequinha sabia cantar
Um xote começou a tocar.
Muita gente logo a dançar
Raimundo com dona Flora
O casal dono da casa
Começavam a chotear.
O baile ia perfeito
O trio sempre a tocar
Ninguém queria parar
Mas sempre tem alguém a errar.
No salão entrou João
Moço querido por lá
Dono de muitas terras
E casa pra alugar.
E João se pôs pra Rebeca olhar
Era a donzela do Capitão
Que ao lado do seu par
Não paravam de dançar.
E em bom e alto tom
Falou pra moça ouvir
Como se tudo fosse seu
Agora o bis é meu.
O rapaz que estava com ela
Logo se enfureceu
Mas não empardeceu
E bravo lhe respondeu.
Agora que comecei
Com ela quero dançar
Vai ter que esperar
E não sei quando parar.
Era o dono do engenho
Rapaz alto e sereno
De apelido conhecido
“Zeca filho de Heleno”.
João ficou chateado
Zeca pra lá de zangado
Antes que se agarrassem
Entra a turma do deixa pra lá.
E às duas da manhã
E pra todos ouvir
O trio logo cantou
“Adeus amor eu vou partir”.
Foi quando alguém gritou
“Pago até o sol raiar”
Em nada adiantou
Pois Raimundo não gostou.
Logo o dono da casa exclamou
Às quatro vamos parar
Amanhã é dia de batente
E temos que trabalhar.
Mas ninguém desanimou
E depois de um bom café
Chamando os tocadores
Caíram no arrasta-pé.
Quando estava tudo bom
Com calor e muito suor
Lá fora cai um toró
Molhando todos por lá.
E para um bom entendedor
Antes do amanhecer
O trio assim falou
“Tocador quer beber”.
E a harmônica logo parou
E ninguém mais se animou
Raimundo agradeceu
O salão logo fechou.
E quem estava de pé
Pra casa logo se mandou
E quem já estava caído
Logo se levantou.
Muita gente a sair
E todos a caminhar
Indo pra todo lugar
Sabe Deus como chegar.
Depois, mesmo a caminho da roça
Ainda tornavam a lembrar
De tudo de bom por lá
E boa conversa não vai faltar.
Já pensando na próxima festa
E em quem também vai tocar
Quero ser convidado
Pois já começo a me animar.
Danço com Rebeca e danço com Marica
Não dou bis pra ninguém
Nem a João nem a Zeca de Heleno
Pois coragem é tudo que tenho.