poema para a noite de número 5
procurava o ninho onde as abelhas recolhiam,
quis fazer-me um operário e construir,
construí um novo mundo, era arquiteto,
repartindo o meu trabalho sem suar-me da labuta,
mas era apenas a utopia,
o papel que se escrevia
escorria de mi'a boca
fragmento das parreiras,
quando as uvas de um natal prometiam-se aos reis magos,
e o fruto da menina
que cumprira a comunhão,
o vestido branco casto
da menina que rezava,
era a cruz que pendurasse
na corrente dos jasmins,
e o desenho que riscava
a redoma das estrelas
compreendia o vaga-lume
vagaroso que a criança
prisionava de entre os dedos,
era julho e mês de frio.
eram nuvens das chuvas de maio,
eram ventos soprando as neblinas,
e quando a fúria dos céus trovejava,
era deus que se ouvia na treva,
e ao moldar de sua argila de sonhos,
quando um sonho queimava as distâncias,
brandiam fogueiras na noite
e a fumaça das preces
dançando ia aos céus.